Postado em01 Jun 2014 01 53 HISTORIAS DE MERICO
Contava-se em Mericó que, muito antes da fundação da vila, morara naquelas terras um grande criador de gado de nome Gonçalo da Costa. Seus domínios estendiam-se por mais de uma dezena de quilômetros, chegando ele a passar dias pelo meio do mato a procura de animais paridos ou desgarrados. Dentre os perigos que enfrentava nessas andanças, um deles era o de encontrar alguns caboclos brabos, que se acreditava, ainda, existir entrincheirados pelos grotões e pés de serra.
Foi numa dessas viagens que perdeu o rumo da casa e teve de improvisar dormida no mato. Dificultando mais a situação, aquela era uma noite de chuva. Ensopado, tremendo de frio, Gonçalo acocorava-se ao pé de uma umburana, quando divisou distante, ofuscada pela chuva, uma luz. Acreditou tratar-se de um arrancho de caçador ou de vaqueiro e, enfrentando o temporal, saiu quebrando o matagal na escuridão, em direção à luz.
Era um rancho de varas trançadas, de vão único, coberto com gravatá. Não tinha porta, estava deserto e no meio da sala ardia uma pequena fogueira.
Entrou, agachou-se ao lado do fogo e, agradecendo aos santos àquela dádiva, passou a esfregar as mãos, aquecendo-se, preparando-se para uma boa noite de sono.
Relaxava escorado numa da estacas de sustentação do teto quando, lentamente, pé ante pé, um frango adentrou a saleta. Era quase um galo, meio pelado e as penas que lhes restavam estavam ensopadas da chuva. Aproximou-se do fogo, sacudiu as asas e passou a fitar demoradamente, ora a labareda, ora Gonçalo, perturbado por não entender como daquele lugar, no meio mato, sem nenhuma alma vivente há quilômetros de distância surgia um frango.
Os dois entreolhavam-se há um bom tempo, quando, de muito longe, abafado pela chuva, ouviu-se um grito:
- Lá vou eu, salvador do mato!
O frango manteve-se impassível. Gonçalo estremeceu e, como que em busca de uma resposta para aquele mistério, fitava o frango com um olhar perquiridor, quando a voz voltou e ecoar, bem mais próxima:
- Lá vou eu, salvador do mato!
Arregalando os olhos, olhou mais uma vez para o frango que se mantinha impassível, olhou para a porta como se quisesse correr, mas antes de esboçar qualquer ação, mais uma vez a voz se fez ouvir, desta vez muito próxima, retumbante como um trovão:
- Lá vou eu, salvador do mato!
Com os olhos prestes a saltar das órbitas, Gonçalo fitou o frango e este, retribuindo o olhar, calmamente, falou:
- É triste, hein, Gonçalo, quem tá com o pé no enxuto, botar no molhado.
Tamanho foi o ímpeto com que se lançou no meio da chuva, da mata, da escuridão que, inconscientemente, acabou encontrando o caminho de casa.
O sol lançava os seus primeiros raios, quando o tirador de leite o encontrou caído no oitão da casa, com as roupas esfarrapadas, o corpo macerado e cravejado espinhos, quase cego, semimorto.
Foi numa dessas viagens que perdeu o rumo da casa e teve de improvisar dormida no mato. Dificultando mais a situação, aquela era uma noite de chuva. Ensopado, tremendo de frio, Gonçalo acocorava-se ao pé de uma umburana, quando divisou distante, ofuscada pela chuva, uma luz. Acreditou tratar-se de um arrancho de caçador ou de vaqueiro e, enfrentando o temporal, saiu quebrando o matagal na escuridão, em direção à luz.
Era um rancho de varas trançadas, de vão único, coberto com gravatá. Não tinha porta, estava deserto e no meio da sala ardia uma pequena fogueira.
Entrou, agachou-se ao lado do fogo e, agradecendo aos santos àquela dádiva, passou a esfregar as mãos, aquecendo-se, preparando-se para uma boa noite de sono.
Relaxava escorado numa da estacas de sustentação do teto quando, lentamente, pé ante pé, um frango adentrou a saleta. Era quase um galo, meio pelado e as penas que lhes restavam estavam ensopadas da chuva. Aproximou-se do fogo, sacudiu as asas e passou a fitar demoradamente, ora a labareda, ora Gonçalo, perturbado por não entender como daquele lugar, no meio mato, sem nenhuma alma vivente há quilômetros de distância surgia um frango.
Os dois entreolhavam-se há um bom tempo, quando, de muito longe, abafado pela chuva, ouviu-se um grito:
- Lá vou eu, salvador do mato!
O frango manteve-se impassível. Gonçalo estremeceu e, como que em busca de uma resposta para aquele mistério, fitava o frango com um olhar perquiridor, quando a voz voltou e ecoar, bem mais próxima:
- Lá vou eu, salvador do mato!
Arregalando os olhos, olhou mais uma vez para o frango que se mantinha impassível, olhou para a porta como se quisesse correr, mas antes de esboçar qualquer ação, mais uma vez a voz se fez ouvir, desta vez muito próxima, retumbante como um trovão:
- Lá vou eu, salvador do mato!
Com os olhos prestes a saltar das órbitas, Gonçalo fitou o frango e este, retribuindo o olhar, calmamente, falou:
- É triste, hein, Gonçalo, quem tá com o pé no enxuto, botar no molhado.
Tamanho foi o ímpeto com que se lançou no meio da chuva, da mata, da escuridão que, inconscientemente, acabou encontrando o caminho de casa.
O sol lançava os seus primeiros raios, quando o tirador de leite o encontrou caído no oitão da casa, com as roupas esfarrapadas, o corpo macerado e cravejado espinhos, quase cego, semimorto.
Aldenir Dantas
Para abrir a janela de comentarios, clique sobre o titulo do texto ou sobre o link de um comentario: