Ano 27                                                                                                                              Editado por Jomar Morais
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Seu Felizardo, após muita insistência da mulher e dos filhos, comprou o primeiro aparelho de TV de Mericó. Logo surgiram os televizinhos se acotovelando na sala, nas janelas e portas para assistirem em branco e perto chuviscado a Rede Tupi de Televisão.

Júlia, filha de Zé Santino, como as demais moças, se encantou com a novidade, especialmente, com as novelas e os artistas. Às seis horas, corria para a casa do padrinho, ajudava a madrinha a lavar a louça do jantar e, assim, garantia sua vaga no sofá da sala. Afora a família e os mais velhos, todos sentavam no chão, formando um tapete humano, desfeito, apenas, quando terminava a novela O Machão.

Acompanhada da vizinha, que também via a novela, Júlia retornava para casa em estado de encantamento, comentando as cenas da noite.

- Ah, mulher, quando eu casar e tiver um filho acho que vou botar o nome dele de Julião Petrúquio.

- Não, Rosinha! Julião Petruquio é só um papel. Eu botaria o nome de Antônio Fagundes, que é o artista de verdade. 

- Mas, vem cá... Tu sabe o que esse rapaz faz aí sentado, toda noite? Mulher, toda vez que a gente passa ele ta aí nesse batente, sozinho... Cochichou com a amiga, após passarem por Zé Neto, sentado à porta do cartório.

- Sei lá! Mora aí perto... Deve ta querendo namorar com tu. Comigo é que não é. Esse povo até intrigado lá de casa é.

Essa intriga vinha de longe. Começou com a briga mais famosa da qual se tinha notícia em Mericó: Zé da Silva e Zé do Santo, na década de vinte, por causa de um desentendimento numa divisa de terras, optaram por resolver a desavença numa luta de homem para homem. De posse de duas peixeiras, amarraram as fraldas das camisas uma na outra, rolaram pelo chão e se feriram a facadas por um tempo que só Deus sabe. O certo é que foram encontrados semimortos, esvaindo-se em sangue e ainda presos pelas camisas. Como um médico era raridade naquele tempo, conta-se que curaram os seus graves ferimentos lavando-os com água da casca de cajueiro.

Decorridos mais de meio século daquele espetacular duelo, ali estavam dois jovens cultivando o ódio semeado por seus avoengos. Mas para ser justo, é necessário dizer que Júlia não dava a mínima para aquela intriga besta, seu pai é que sempre se referia aos Silvas como inimigos ferrenhos. E quanto a Zé Neto, era indignado com aquela rixa que o obrigava a se manter distante daquela jovem bonita, cuja presença mexia tanto com ele, chegando a deixá-lo sem graça. E já que não podia fazer outra coisa, ao menos ficava pastorando, diariamente, sua passagem vindo da novela. Depois ia dormir pensando nela, o que constituía um misto de dor e prazer.

- Mas pai, aquela moça lá, filha do seu intrigado, é até jeitosa.
   
- Olhe aqui, seu cabra! Se você quiser me dar um desgosto grande, se enrabiche pro lado daquela sujeita. Aquele povo não vale nada! E fique sabendo que, mesmo você já sendo um homem, ainda sou capaz de lhe dar umas boas lamboradas se se meter com aquela raça de gente ruim! E não me fale mais nisso, aqui!

- Pai, parece que aquele filho do seu intrigado ta se engraçando pro lado de Rosinha.

- Já disse que não falem daquela mundiça aqui nesta casa! E olhe aqui, moça, se um dia eu sonhar que você andou se penerando pro lado daquele sujeito, não tem santo nesse mundo que me empate de lhe dar uma boa duma surra!

Para ela não fazia sentido aquela rixa boba. Depois, o rapaz era tão bacana, bonito, trabalhador... Era o braço direito de Dona Menina, tanto na bodega, como na compra e venda de algodão e agave.  Ademais, havia outra coisa que nunca dissera a ninguém: quando passava por ele, sentia-se pouco à vontade, olhava para o chão ou para o lado e no dia em que, quase se trombaram ao dobrar uma esquina, seus olhos se cruzaram e isso foi uma complicação. Nada além de alguns segundos, mas o suficiente para sentir as pernas fraquejarem, o coração disparar, um arrepio percorrer o corpo, o chão fugir-lhe dos pés, a cabeça rodar... Quanta coisa! Não sabe como escapou daquela situação vexatória, só não conseguiu escapar foi do brilho excessivo daquele olhar tímido, que passou a acompanhá-la em seus pensamentos e sonhos.

- Pai, deixa eu ir pro assustado domingo com Rosinha?

- Nem assustado, nem assombrado... Vá pra missa, isso sim!

- Homem, a menina já tem dezoito anos, também precisa se distrair um pouco. Tem nada de mais, ir olhar a festinha da escola com a amiga e voltar cedo?

Uma das salas de aula do Ginásio, aos domingos, transformava-se no dance do tradicional assustado, organizado pelos concluintes no intuito de arrecadar dinheiro para a festa de formatura.

Mesmo a contragosto, Zé do Santo cedeu aos argumentos da esposa e lá estavam as duas amigas, eufóricas, acompanhando o ritmo das músicas: The Fevers,  Renato e seus Blue caps, The Carpenters...  quando Júlia beliscou o braço de Rosinha e, olhando de lado, falou:

- Olha ele ali, o teu pretendente.

- Nã! Meu não! Mas, ah, se fosse! E não para de olhar pra cá... É pra você.

- Ai, meu Deus! Vambora, vambora... Tentava arrastar a amiga para fora da sala, mas, desistiu, pois a vitrola começou tocar If you could remember com Tony Stevens. Não entendia nada da letra, mas adorava aquela música. Até desenhou seu nome no caderno com letras coloridas e dizia às amigas que, se cada pessoa tivesse uma música, como os personagens das novelas,  a sua seria aquela.

- Ele vem pra cá! Ele vem pra cá...

Aquela música, aquele ambiente, e aquele jovem vindo em sua direção... Pareceu perder os sentidos, acordando quando uma mão forte tocou delicadamente a sua. Abriu os olhos.  Parecia reviver de forma potencializada a confusão do encontro na esquina...

- Vamos dançar.

- Eu não sei dançar... Respondeu, olhando para o chão, mas a última palavra nem foi ouvida. Nem precisava.

Por quase meia hora, ao som da velha radiola, passearam pelos jardins do Éden de mãos dadas até serem convidados a voltar para a realidade por um carimbó de Eliana Pittman. Mesmo contra a vontade, precisavam retornar aos seus lugares. Mas ele segurando-a pela mão trêmula e suada, implorou:

- Fique mais um pouco.  

- Preciso ir.

- Vou pedi-la em namoro ao seu pai.

- Ele te mata.

- Morro feliz.

- Mas quero você vivo.

Com um aperto de mão, que parecia conter em si o sentimento do mundo, separaram-se.

Uma semana se passou, a vida continuava a mesma na pacata Mericó, menos para aqueles dois. O mundo virara uma confusão só, restando uma única certeza: A saga dos Santos e Silvas caminhava para mais um acontecimento imprevisível e, quisera Deus, que não fosse de morte. 

Domingo de feira, o sino tocava a primeira chamada para a missa, Zé do Santo escanhoava o queixo com um canivete quando a mulher, achegando-se cuidadosa, como quem pisa em ovos, falou delicadamente.

- Zé, tem um rapaz aí fora querendo falar com tu...

Ouvir o nome do jovem foi o suficiente para ferir-se no queixo com a lâmina da Gilete. Sem camisa, exibindo o cabo de uma pistola de dois tiros presa ao cós da calça de mescla, mal prestou atenção no que lhe disse o jovem tímido e assustado que tentou dissuadi-lo da sua ira com bonitas e educadas palavras... Só sabia que gaguejou e falou no interesse na sua filha. E isso foi o suficiente para enxotá-lo da sua porta.

- Suma-se da minha porta, seu gabola! E se atreva a botar os pés aqui de novo, para ver se não enfio essas duas balas no seu focinho! Dona Júlia, cadê a senhora! Dona Júlia!... Saiu casa adentro gritando pela filha, vermelho de raiva. Mas prevendo a reação do pai, esta havia saído pela porta dos fundos e não mais voltou.

Passados dois anos, com a cumplicidade e auxílio de Dona Menina, os dois retornaram de Goiás para casar em Mericó e, ao mesmo tempo, batizar a filha.

O velho roncava na espreguiçadeira, ao lado do rádio, quando a mulher, com o cuidado de sempre o chamou:

- Zé, olha quem ta aqui...

Ele abriu os olhos, protegendo-os com a mão da luz da janela que os encandeava.    Esforçou-se para não acreditar no que via, mas era real: sua filha com uma criança no braço e a mão estendida em sua direção:

- A sua bênção, pai!

O velho Zé se viu envolto numa tremenda confusão emocional: de um lado a filha, ainda mais bonita e com uma criança nos braços que mais parecia uma boneca de louça. Do outro, o orgulho, a raiva alimentada durante todo aquele tempo, além do desgosto e da vergonha que lhe fizeram passar... Sua única filha. Sua respiração alterava-se, os olhos brilhavam, ameaçava explodir...

- Zé, Zé... Se lembre homem: Hoje é dia grande, sexta-feira santa. Vai negar a benção a sua filha?

Não tinha jeito. Deu um nó na garganta, uma vontade de chorar... E aquela bonequinha olhando e sorrindo para ele... Mas não podia fraquejar. Era homem e como tal iria agir... Engoliu o choro, retemperou a garganta e fingindo frieza, respondeu:

- Deu lhe faça feliz, já que não lhe deu vergonha. E dê cá essa menina pra mim dá um cheiro...

Era Maria Isabel de Lizandra Santos e Silva, que pôs um ponto final na rixa mais famosa e antiga das terras de Mericó.
conto das terras do mericó - 8
por Aldenir Dantas *
Romeu e Julieta em Mericó
Deu um nó na garganta, uma vontade de chorar... E aquela bonequinha olhando e sorrindo para ele... Mas não podia fraquejar. Era homem e como tal iria agir... Engoliu o choro, retemperou a garganta e fingindo frieza, respondeu: "Deus lhe faça feliz, já que não lhe deu vergonha. E dê cá essa menina pra mim dá um cheiro..."

* Conto integrante do livro inédito Histórias Mal Contadas das Terras do Mericó.
Aldenir Dantas é poeta e escritor, especialista em
Ensino à Distância e mestrando em Ciências da Educação

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