Aqueles que vivem nas ruas
São nossos irmãos mais carentes
São homens, mulheres, crianças
Meninos, meninas, são gente
Tantas histórias contadas
Tantas memórias perdidas
Tantas dores caladas
Dessa gente sofrida...
Laços partidos, quebrados
Laços de união permanente
Outros forjados na dor
Diante do tempo presente...
São mãos estendidas que buscam
Bocas que mendigam o pão
Almas que gritam e choram
As chagas... do coração
São tão frágeis, tão pequenos
Como alcançá-los então?
Com o abraço, o carinho
Do verdadeiro cristão
Vivem soltos, em bando
Voam aqui e acolá
Revoam por todos os cantos
Sem ter onde pousar...
Alguns doentes, tristonhos
Outros alegres a cantar
Todos trazendo no peito
O desejo sincero de amar
São nossos irmãos mais carentes
De um afeto, um abraço, um olhar...
São homens, mulheres, são gente
Com tantas vidas a contar....
[ Em homenagem aos assistidos pelos Cuidadores de Francisco, ação social do Sapiens ]
O tempo e a paciência
Conversavam no espaço
O tempo sábio bem disse:
- Me diga, sem embaraço
O que nos une na vida?
Diga lá sob a medida
A luta ou o cansaço?
A paciência bem calma
Disse ao tempo sem demora:
- Na luta ou no cansaço
A espera não tem hora
Tenho certeza também
Que aqui ou mais além
O senhor bem colabora
- É verdade, paciência
Meu jeito faz refletir
Para tudo nessa vida
Sou bom modo de agir
Na luta ou no cansaço
No sonho ou no espaço
Faço tudo construir
- Lembro sempre, senhor tempo
A todos com devoção:
Vivam o sonho e conquistem
Sintam só com o coração
Não acolham desespero
Não prendam-se a destempero
Caminhem mais neste chão
Ter tempo com paciência
Dar saber com mais vigor
Um nos mostra a verdade
A outra mostra o amor
Esta sim é a luz da alma
Que a todos pede calma
Aquele ameniza a dor
Estava seu Quinquim, como fazia todas as tardes, em sua cadeira de balanço à sombra do pé de castanhola que arejava sua pequena casa, remoendo devagar os pensamentos, costume que adquirira desde que fora consagrado por amigos, admiradores e até ps invejosos como o “sábio” da Vila Verde.
Dessa vez, o motivo que o fez sentar-se mais cedo na calçada foi a repercussão da conversa de que participara na feira, no dia anterior, protagonizada por um rapaz da cidade grande que viera passar as férias em sua querida vila, lugarejo humilde onde ele nasceu, vive e como diz, peremptoriamente, pretende morrer.
Na conversa, testemunhada por um punhado de gente simples e hospitaleira, o jovem esbanjou seus saberes metropolitanos e na tentativa de convencer a todos, peculiaridade inerente àqueles que pensam que sabem tudo, não poupou palavras para contar as novidades da Capital e exibir-se diante de uma reca de analfabetos e ignorantes.
Gastou seus verbos, sobretudo, para falar das maravilhas da Internet, essa tecnologia moderna que ainda não chegara na pequena vila, deixando embasbacados a todos que o ouviam na calçada do Café Vitória. Em suas mãos segurava um aparelhinho celular por meio do qual conversava animadamente com sua namorada, mostrando-a a todos, jovem e bela na diminuta tela, e assegurando que, naquele momento, a garota encontrav-se no Japão, envolvida com um Curso de Informática.
Todos entreolharam-se e, um matuto mais afoito foi logo dizendo: "Deixe de mentiras, rapaz! Ninguém aqui vai acreditar que você está falando com uma pessoa do outro lado do mundo e, ainda mais, vendo-a no mesmo instante onde ela está.
O rapaz sorriu, pediu para a namorada confirmar o que eles estavam presenciando e, também entre sorrisos, a jovem cuidou de disparar a prova definitiva. Fez um selfie na Escola onde estava, transmitiu de imediato, disse em alto e bom som que era tudo verdade e a maioria dos que cercavam o rapaz se rendeu estonteada. Ainda assim teve quem rebateu. "Diga logo, rapaz, qual é o truque ou mágica que você faz?
Então, presunçoso, o moço mostrou que perdera a paciência. "Senhores, isto são as novas tecnologias. Por mais que me esforce para explicar-lhes vocês não entenderão", disse com ar definitivo. Girou o corpo em 360 graus e, como quem oferece uma migalham desafiou: "Alguém aqui quer fazer um comentário?"
Cada um dos ouvintes se remexeu em seu canto e, de repente, estavam todos olhando para seu Quinquim. Compadre Miguel, tomando a frente, fez as vezes de porta-voz do grupo. "E aí,compadre, o que nos diz dessa presepada? Onde já se viu, uma pessoa com um aparelhinho desse tamanhinho, não só falar como ver na tela e na mesma hora, em outro continente, na Ásia, a pessoa com quem fala?"
Seu Quinquim, fazendo um muxoxo, abriu um largo sorriso e bradou do jeito que lhe era próprio: "Besteira. Muito mais impressionante é ver meu pai que, de vez em quando, fala com meu avô que está no “outro mundo” há 50 anos!"
Riso geral. A turma toda entendeu a resposta do sábio Quinquim.
Surpreso, o moço da Capital, que não captou a mensagem, saiu dali cabisbaixo.
Sei que tu existes há muito
(Os normais da terra dirão que não)
Mas o sonho é a primeira instância do real
-E eles ficarão sem palavras.
E, caso aceites vir nos braços do teu futuro pai
Sei que terás os olhos da mulher que eu amo
E talvez tu sejas mulher também
E vais olhar para mim com os olhos da mulher que eu amo
Mas ainda não conheço a mulher que amo
E enquanto a mulher que eu amo não vem
Ofereço a primavera a pular em seu colo
Pintando as estradas turvas por onde quer que ela passe
Ofereço tranquilidade da casa materna
Num sábado entardecido e desocupado
A minha singela lembrança
E a mulher que eu amo
Terá uma vaga saudade da nossa filha que virá...
Saio de dentro de mim
observo-me exteriormente.
O que vejo são sombras, incertezas, dúvidas
ou é a realidade que me penetra, devora
e faz-me refletir sobre a vida,
apenas esperando, quem sabe, um novo amanhã
Não sei se o agora vai tirar-me dessa angústia,
pois o antes não o conseguiu
nem o depois certamente o conseguirá.
Mas, pensando melhor, acho que
viver somente o presente é o sinal indicado
para a vida feliz a ser alcançada.
Quem sabe a paz, devagar, virá
sorrateiramente, plena e vigorosa
para encher de luz e vibrações
a ansiosa consciência,
senhora real e inexpugnável
de toda nossa existência.
Eu e Tu, já é hora
Vamos nos olhar nos olhos
E nos dar as mãos
Vamos sorrindo, caminhando
Pela sombra do arvoredo
Ou ante o sol da manhã
Porque, eu e tu, já é hora
Precisamos um do outro
Porque ninguém suporta mais viver assim
Rompa-se o amor há muito contido
Porque, indiferentes, somos mendigos
Do coração
Nenhuma desculpa será maior que a nossa dor morta
Por isso, eu e tu, já é hora
De viver o que importa
Livres dos muros e da solidão
E serei feliz na tua felicidade
Cantarei no teu cantar
E sorrirei com teu sorriso
E chorarei no teu choro