A meditação das pedras
Postado em 30 Mar 2015 17 56 Principal




Arjuna havia entendido o velho.

- Por que as pedras? Essa foi a pergunta.

Ele lembrou que o velho nem abrira os olhos, continuara em meditação com um sorriso leve. Era seu bisavô...

Aquele velho sabia do tempo. E só agora Arjuna entenderia o tempo das pedras.

Seu bisavô, considerado um sábio da tribo, repetia muitas vezes aquela meditação, junto ao jardim das pedras.

Aconteceu no dia em que Arjuna andava nas imediações da floresta, acompanhado de seus pensamentos. Descalço, notava as nuanças do solo, a terra ainda fria da chuva que caíra pela manhã. Sentia a brisa fresca e enchia os pulmões com um bocado de ar. Estava grato por aquela natureza tão grandiosa onde ele se sentia diminuto, quase perdido.

Quanto mais andava, notava uma gradual mudança na paisagem, até que ele chegou ao caminho do rio, cheio de pedras, havia muitas pedras trabalhadas pela natureza, redondas, alongadas, umas em cima das outras. Era o lugar onde aquele velho meditava. Há muito tempo...

De longe se podia ouvir o sussurro das águas. Arjuna sentou-se, contemplando o silêncio manso do lugar. Uma calma foi tomando conta dele. De repente, tudo parou. Era como se estivesse entrado em outra esfera do tempo, ou do sem-tempo. Sua respiração quase parara. E Ele perguntou:

-Pedras, por que vocês? (Que loucura, ele estava falando com elas).

Ele focou a atenção numa pedra que se destacava na paisagem. Uma pedra oval, respaldada numa base maior. Esperava ouvir uma resposta.

Olhava para pedra fixamente, alguns passarinhos cantavam languidamente ajudando a pintar o quadro da natureza...

Mas era só silêncio... Silêncio... Silêncio...

SILÊNCIO! Era isso!...

Um arfã de contentamento invadiu-lhe a alma. Parecia agora ouvir o silêncio das pedras e a cada instante mais uma certeza lhe arrebatava a alma. Sentia que de alguma forma aquela pedra lhe contemplava. Na sua calma e imobilidade, ela contemplava...

Arjuna continuava sentado, o coração um pouco acelerado. E a pedra falou! Arjuna estava chocado, arrebatado...

Ele não sabia como, mas simplesmente entendeu. Aquele lugar era uma convenção, um encontro das pedras, havia séculos! Elas estavam ali por um objetivo mais profundo, porquanto estavam interligadas numa sutil vibração que envolvia todo o ambiente. Sua visão parecia ampliada. Conseguia notar as pequeninas pedras humildemente encostadas nas suas irmãs maiores...

Era a meditação das pedras. E era a calma delas, o silêncio delas...

Estavam todas, de alguma maneira, criando através do tempo as suas formas, vindo de cantos distantes, criando sua individuação, até chegar ali. E agora exalavam silêncio, criavam uma paz e doavam essa paz ao mundo.

A pedra parecia olhar simplesmente. Era uma pedra. Nada mais...

Os ouvidos de Arjuna estavam destampados. Havia uma franca e arejada ligação daquelas pedras com sua alma. Ele, por uma inédita e milagrosa vez, entendia as pedras. Um profundo sentimento de religiosidade passara a tomar conta dele. Dali para frente, jamais poderia ver aquelas pedras da mesma maneira, jamais poderia deixar de reverenciar aquele lugar.

Agora entendia o seu bisavô e sua paz sem sentido. Algum clarão se havia aberto definitivamente por dentro.

Daquele momento em diante, pôde-se encontrar Arjuna, feito seu bisavô, meditando com as amigas pedras.


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