O que temos a aprender com as crianças?
Postado em 21 Dec 2015 19 31 Principal




Quando eu retornei, recebi uma grata surpresa: as crianças vieram correndo me abraçar. Um dos menininhos da sala na qual eu estagiava vem em minha direção e me dá um abraço apertado (nas minhas pernas). Olhando pra cima, ele sorri. Eu me abaixo e ele me fita nos olhos e me contempla como se estivesse “escaneando” meu rosto e dizendo mentalmente: “é você mesmo!”. Então, antes de me soltar, novamente me olha e pergunta baixinho: “você ainda lembra o meu nome?”
Já haviam se passado 150 dias da greve. O estágio foi interrompido quando iria começar a terceira semana, pois a primeira fora apenas de observação. Mas não há como não se apaixonar por aqueles rostinhos lindos, cada um com sua personalidade, a cabeça cheia de espanto, os olhos cheios de sonhos e o corpo cheio de movimento. Era a sala de 05 anos e a cada dia eu me surpreendia com as perguntas das crianças, com a espirituosidade dos seus “causos”. 
Acho que o ofício de ser professor da infância está cheio de mistérios e tenho a certeza de que o bom professor sabe que entra na sala para aprender. Aprender a se surpreender, assim como as crianças se surpreendem, aprender a ver as coisas com o encanto de quem as vê pela primeira vez, assim como as crianças veem. 
O escritor espírita Herculano Pires questionava-se sobre qual período da nossa “adultescência” teríamos esquecido de que também fomos criança. Precisamos das crianças porque elas têm a chave. A chave das portas que fechamos um dia (essa era a angustia de Herculano). 
Algum dia olhamos para trás e vimos uma porta aberta que dava para um lugar florido onde nossa criança interior, descalça, sorria a brincar com outras crianças. Aceitamos que a porta se fechasse. E, aos poucos, fomos nos afastando daquela criança interior porque chega o tempo da “sobriedade” e da “responsabilidade” do adulto... Pensamos: “as crianças são muito inocentes, elas sorriem à toa, acreditam na pureza das pessoas, na pureza das intenções e dos sentimentos, por isso são tão frágeis...”
Ao fecharmos a porta que dá para o jardim da nossa infância, só não percebemos a doença que aos poucos toma conta de nós. Adoecemos exatamente porque permitimos tocar o coração com o espinho da descrença e da desconfiança. Adoecemos porque trocamos o calor do sentimento infantil pelo frio da indiferença adulta.
E lá no parquinho na hora do recreio, vem outra criança e diz com cara de choro: “Tio....ele não quer ser mais meu amigo!” Aí lá vai eu intermediar as pazes....e as crianças saem felizes, como se nada tivesse acontecido.
Vendo a turminha a brincar e a se espantar com tudo (um passarinho, uma formiga, uma folha), eu penso que talvez as crianças sejam tão carregadas de humanidade porque faz pouco tempo que saíram do seio de Deus e sua alma ainda pode ouvir o cochichar divino, revelando seus segredos!
O estágio foi um curso intensivo de humanização, de reaprendizagem de como deve ser a vida. Isso, as crianças têm a possibilidade de ajudar os adultos a recuperarem sua humanidade!
E antes de retornar, depois da greve, para rever os pequenos, passei um filme mental, com seus rostinhos, os momentos preciosos com cada um, tentando eu rememorar seus nomes.
...E respondi: sei sim, seu nome, meu amiguinho: é Pedro!


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Jomar Morais
22 Dec 2015 02 39
Sim, caro Jorge, as crianças tem muito a nos ensinar. O mundo seria outro se pudéssemos reconhecer a sabedoria que emerge de sua espontaneidade. cada um de nós seria melhor se não tivéssemos fechado a porta de nosso jardim da infância.
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