Postado em 21 Jun 2016 00 49 Principal
Era um tempo difícil de memorar.
Começou num cume de uma grande montanha, quando uma gota de dor caiu dos olhos de Deus. Era a odisseia de uma queda. A gota encontrou a matéria que a devorou num segundo. A terra parecia vitoriosa, bebeu a gota facilmente. Mas viria outra memória das águas, o sonho da re-existência. De tanta teimosia do céu com o chão, a gota sonhou a chuva: uma torrente de gotas-irmãs. E fez-se uma poça. A terra grávida enjoou e vomitou aquela dor. Desta vez era a água vencedora que desbravava profundos sulcos, cortando a terra, abrindo caminho em suas feridas. Para onde ia aquela água? Ninguém sabia!
A água tinha o impulso de fazer o que tinha que fazer e só, sem explicar. A terra chorou de dor ao ser marcada pela água. Emprestara seu corpo para o sonho do rio. Naquele sonho, ainda indescritível, havia o sonho dos peixes, do sol, dos barcos, do cais...
Mas a água seguia seu rumo, incansável e não sem derrotas: o sol que lhe levava as filhas para o céu, as pedras duras que lhe fizeram mudar as rotas...
As gotas não perderam seu sonho de ser rio e serpentearam, serpentearam, sem certezas - e chamariam isso de fé - até que a luz rebrilhou em suas águas e afogou-se numa linha azul de mar infinito. Era o porquê das dores que agora faziam parte do amor... O rio violento encontrava calmaria, a terra, profundamente marcada, agora sorria....era um dos finais sem fim, e início do sonho de barcos, de sereias, dos peixes e dos pescadores.
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