Postado em 16 Jul 2015 23 27 Textos Anteriores
Há algo mais na crise da escola
que não aparece no debate sobre
a qualidade do ensino no Brasil
por JOMAR MORAIS
Um de meus três netos estuda em escola pública - a netinha do meio, que mora comigo e desfruta o fausto de minha aposentadoria pelo INSS, reduzida à metade pelo fator previdenciário. Não é queixa, é só uma piada. Vivo bem porque preciso de pouco para viver bem, mas minha netinha poderia viver melhor se os serviços públicos e privados pelos quais pagamos funcionassem a contento.
É triste constatar, por exemplo, que, no meio do ano, a menina, que cursa a 2ª série do 1º grau, tenha visto só 15% do conteúdo dos livros de português e matemática, respectivamente de 272 e 304 páginas, aí incluídos textos e exercícios. Afinal, o que se faz na escola?
Recentemente citei esse dado numa palestra e uma pedagoga apressou-se em esclarecer-me: “O professor não precisa mais seguir o livro básico. Existem outras maneiras de as crianças aprenderem”. Sim, a professora de minha neta tem excedido em sessões de vídeos, nos quais as crianças se divertem sem debater depois o conteúdo que viram, enquanto os professores, do lado de fora, certamente lamentam seus baixos salários.
O ensino público está falido, dirão quase todas as vozes. Mas como explicar o espetáculo de desleixo, despreparo ou má-fé a que minha neta foi submetida na escola privada?
Matriculei-a num curso de inglês – vá lá, não é uma escola top, mas se trata de uma franquia nacional há décadas no mercado. Após três meses de aula, à menina de 8 anos de idade o professor havia ensinado não mais que 20 palavras e nenhuma frase – e para isso foram necessários, além do pagamento da mensalidade, a compra de dois livros e gastos extras para comemorações.
Ora, uma criança de apenas 3 anos de idade, diz a ciência, aprende em média 10 novas palavras por dia! Aos 4 anos minha neta aprendeu a ler e a escrever em apenas cinco momentos de brincadeira comigo (não mais que 20 minutos cada!) e passou a ler histórias para seus coleguinhas de creche pública, que seriam alfabetizados dois anos depois. Também brincando (não mais que 5 minutos por dia!) consegui que ela compreendesse frases básicas em inglês e expressasse algumas ideias nesse idioma.
Qual a razão de tanta ineficiência da escola? Os salários, os salários, dirão as vozes.
É fato: o professor no Brasil é mal remunerado. Mas também o são a maioria dos jornalistas, os motoristas de ônibus, os caixas de supermercado, os garis... E aí? Algum professor, ou outro cidadão, aceitaria como razoável a má prestação de serviço por um dos profissionais citados sob a justificativa de que ganham pouco?
Quando vejo professores (mal pagos) e médicos (que ganham acima da média) reivindicando salários antes de demonstrarem espírito de serviço e respeito ao contribuinte, penso no quanto seria bom e justo a atribuição de salário por mérito, e não por categoria profissional, no serviço público e fora dele. Com os maus profissionais ganhando menos, certamente sobrariam recursos para remunerar bem a quem trabalha com competência e dedicação.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 14/07/15 ]
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