Postado em 13 Aug 2015 19 02 Textos Anteriores
Não há cura real nem iluminação quando,
aprisionados a gurus e rituais, não entendemos
a exortação de Jesus: "levanta-te e anda!"
por JOMAR MORAIS
Meu avô, certamente, diria: “É muito cacique pra pouco índio!”. Sua ironia se encaixaria como luva na fúria milagreira que varre nosso mundo dominado pelo medo.
A emergência de gurus, terapeutas, especialistas, coachers, salvadores da pátria de todo tipo avança na proporção em que diminui o número de pessoas dispostas a caminhar com os próprios pés, assumindo os riscos inerentes à descoberta e à fruição da vida.
É preocupante que, em um tempo que multiplicou o conhecimento e ampliou a comunicação, o resultado de tanto saber na vida das pessoas seja mais temor e mais dependência, impedindo-as de fazer escolhas por si mesmo até diante das situações mais triviais.
Quando olho para esse quadro com os olhos do meu avô, é impossível não ver a (desgraçada) esperteza dos caciques, sempre dispostos a dispensar favores em troca de 30 moedas, sejam elas as de metal (como acontece quase sempre) ou as de abstratos aplausos e reverências que massageiam egos inflados e demasiadamente inseguros. Quando o observo com as lentes dos sábios e dos santos, tenho diante de mim a prova de que a informação, o conhecimento mesmo, não é em si sabedoria, aquele discernimento pleno que só a vida, vivida com entrega e aceitação, pode proporcionar.
O cultivo de um mundo de carentes, eternamente necessitados de muletas e cuidados, serve ao interesse de quem espera tirar proveito dessa paisagem sombria, ainda que sob o rótulo despretensioso da caridade cristã. E isso me leva a imaginar como Jesus se comportaria se, voltando ao templo – hoje em versão multifacetada de igrejas, consultórios e espaços de espiritualidade –, deparasse com os quiosques dos milagreiros vendendo prodígios com cartão de crédito. Imagino que seus braços e pernas voltariam a agir, desmontando bancas e destruindo gaiolas.
Em Jesus, como em todos os mestres das tradições espirituais e da filosofia, é clara a intenção de romper algemas da ignorância e, então, estimular as pessoas a seguirem em frente com os próprios pés.
É simbólica a frase preferida do Cristo ao curar aleijados, cegos e leprosos. “Levanta-te e anda!”, dizia aos beneficiários de sua ação gratuita. Não havia nele o desejo de criar uma clientela dependente de seus cuidados. Ao contrário, seu convite para a jornada contém uma promessa de liberdade - “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” - condicionada à responsabilidade individual de por nas costas a própria cruz.
No balcão de trocas vis da espiritualidade fake há muita palavra e pouco senso, muito ritual e pouca vivência, muita massagem no ego e nenhuma disposição para caminhar, descer ao porão da alma e realizar a faxina dos apegos que nos aprisionam à cela dos coitadinhos.
Aos gurus e milagreiros falta autoridade para dizer, como Ghandi: “Minha vida é minha mensagem”. Aos eternos carentes de cuidados e carinhos, falta coragem de admitir que tudo que almejam é aliviar o medo comprando um naco de prazer.
[Publicado na edição do Novo Jornal de 11/08/15 ]
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Precious
11 May 2016 22 03
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