Imagine...
Postado em 16 Sep 2015 08 06 Textos Anteriores











Um mundo sem medo teria de ser  
reinventado. As estruturas atuais  
não resistiriam à serenidade  


por JOMAR MORAIS


Imagine o mundo, o nosso mundo, sem o medo. 

Em princípio, penso que o que viria à sua mente não seria destoante do que emergiu à minha no primeiro momento de meu devaneio: pessoas circulando tranquilas, trocando sorrisos em vez de olhares de desconfiança, homens e mulheres baixando a guarda de seus sentimentos e se declarando uns aos outros, crianças brincando nos parques ou tomando banho de chuva...

É luminosa e consensual a cena nº 1 de um mundo do qual o medo tivesse sido eliminado. Teríamos, enfim, conhecido a paz, por vivenciá-la ou por nos aproximarmos dela ao reconhecer que as diferenças não nos ameaçam e tornam a vida mais bela e divertida. 

Mas, como tudo no nível das formas, estabelecido com base na tensão dos opostos, a moeda de um mundo sereno também tem o seu reverso. Imagine...

Imagine, num mundo sem medo, o que seria das companhias de seguro, das empresas de segurança, das corporações policiais, da indústria de armas, das fábricas de suplementos alimentares, da indústria de cosméticos, dos laboratórios farmacêuticos, dos planos de saúde...

Imagine, num mundo sem medo, como ficariam os bancos e seus fundos de investimento, os planos de aposentadoria, a bolsa de valores, o negócio dos imóveis, a indústria da moda...

Imagine, num mundo sem medo, a situação dos políticos (que crescem e declinam nas ondas das crises), das empresas de marketing político e comercial, da propaganda em geral, dos consultores de todo tipo e (por que não?) dos jornalistas e das empresas de mídia...

Imagine, num mundo tomado pela serenidade, a que seriam reduzidas as igrejas superlotadas de fiéis, em busca de proteção de divina e privilégios ao custo de dízimos, as tendas dos milagreiros, os consultórios dos terapeutas, os quiosques das cartomantes, as macas dos massagistas...

A essa altura, talvez, você já tenha concluído comigo que  um mundo liberto do medo teria de ser reinventado.

Bastaria que uma pequena parcela da população -  não mais que 20% - despertasse amanhã sem os medos que nos levam a produzir, consumir, contratar serviços e recorrer aos bancos para que tivéssemos uma crise global catastrófica, bem mais explosiva do que a crise atual, fruto da ganância, essa dileta filha do medo.

Além disso, um mundo sem medo também poderia ser um lugar amargo pelos “ataques” de sinceridade, ferido pela negligência e pelo  aumento de acidentes.

Penso que nada existe no universo sem um propósito. E o propósito do medo seria o de ajudar a vida a preservar-se e aperfeiçoar-se. Entretanto, aqui, como no resto, a precisão e a eficácia estão relacionados à dose, à moderação. 

O medo na medida certa chama-se cautela e, nesse nível, ele jamais assume o controle de nossa jornada nem torna a a vida um espaço de aflição. 
Por enquanto, esse é um privilégio dos sábios e santos que transcenderam o egoísmo, mas qualquer um de nós pode imaginá-lo num mundo reinventado com a nossa participação.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 15/09/15 ]

-----------------------------------------------------------------------------

Você já acessou os vídeos da TV Sapiens? Vai lá, assista
e inscreva-se no canal >>> www.youtube.com/sapiensnatal

Para abrir a janela de comentarios, clique sobre o titulo do texto ou sobre o link de um comentario >>:
Jomar Morais
20 Sep 2015 01 09
Obrigado, caro Jorge Brana, pela leitura e por seu generoso incentivo.
Jorge Brana
18 Sep 2015 23 21
Esse texto muito esclarecedor, amigo. muito luminoso...grato!
Deixe um comentario
Seu nome
Comentarios
Digite o codigo colorido