Postado em 18 Nov 2015 20 52 Textos Anteriores
O ponto não é responder ao ódio com
mais violência, mas saber porque tantos,
entre nossos jovens, aderem à barbárie
por JOMAR MORAIS
No domingo, ainda sob a consternação mundial provocada pelos atentados em Paris, um editorial assinado e lido pelo jornalista Pedro Bial resumiu a opinião do programa “Fantástico”, da TV Globo, diante do episódio. “Falar em paz agora é capitulação”, diz o texto. Agora é guerra, guerra implacável.
Um texto assim, tão afinado com as emoções explosivas que nos assaltam em momentos de dor intensa, provavelmente foi aplaudido por milhões de telespectadores, reforçando o senso comum de que a violência só pode ser enfrentada por uma violência maior e que atos cruéis pedem resposta no mesmo nível.
Bial lembrou-me Dan Rather, o renomado jornalista americano, ex-âncora da CBS News, ao ser entrevistado na noite de 11 de setembro de 2001. Sob o impacto do atentado às torres gêmeas, também ele, em lágrimas, clamou pela “espada da justiça”, respaldando a priori a opção que o governo Bush viria a adotar em represália à Al-Qaeda: uma guerra ao terror que começaria com a invasão do Afeganistão e do Iraque.
Naquela ocasião, Dan Rather expressou um sentimento nacional em um momento de trauma – compreensível, mas equivocado, como os anos seguintes iriam demonstrar.
Em nome da espada da justiça, só os Estados Unidos investiram mais de 1 trilhão de dólares (até 2010!) em atos de guerra, segundo o Congresso americano, sem falar nos gastos para a montagem de um aparato tecnológico que praticamente eliminou a privacidade das pessoas comuns e até dos governantes do mundo e mudou (para melhor) a visibilidade do trânsito de capitais no planeta.
E o que resultou desse esforço gigantesco, além do aumento da fortuna dos fabricantes de armas e demais empresas envolvidas na operação? A morte de 70 mil civis no Iraque e de outros milhares no Afeganistão, dois países devastados e até hoje em guerra interna, a morte de alguns militares, o uso institucional da tortura, a captura de Bin Laden (então aposentado da Al-Qaeda) e o enfraquecimento, mas não a eliminação, de sua organização terrorista e – pasmem! – o fortalecimento em escala global do terrorismo como jamais ocorrera antes, aí incluído o nascimento de um monstro chamado Estado Islâmico.
A ação militar é indispensável para conter o ímpeto assassino dos terroristas, mas jamais poderá resolver uma patologia social que se alimenta da inconsciência do ser humano e da iniquidade de um mundo injusto.
É necessário impedir a matança – e não apenas na França, mas também na África invisível aos holofotes da mídia e em qualquer parte. Porém, mais importante que uma segunda guerra ao terror (resposta de ódio ao ódio, que também mata inocentes) é acharmos respostas para o que nos parece um nonsense:
Por que tantos, entre nossos jovens, são cooptados pela mensagem da violência? Por que os valores ideais de nossa civilização geram tanta descrença em corações e mentes de nossa própria gente?
Sem identificarmos e trabalharmos o solo onde prosperam as sementes do ódio, toda guerra ao terror será paliativo inútil que nos arrastará, cada vez mais, ao jogo destrutivo das mentes sombrias.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 17/11/15 ]
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