Postado em 03 Dec 2015 20 52 Textos Anteriores
"Mas é você que ama
o passado e que não vê
que o novo sempre vem"
por JOMAR MORAIS
A comemoração do sexto aniversário do NOVO JORNAL, em meio ao lançamento de canais digitais que integram definitivamente o jornal à vida de seus leitores, fez-me lembrar de uma cena de que participei em 1995, em Natal.
Naquela época eu residia em Brasília, a serviço do jornal Folha de S. Paulo, e fora convidado a participar de um seminário sobre jornalismo promovido pela UnP, ao lado de profissionais talentosos da imprensa potiguar e colegas de outros estados. Como sempre acontecia na segunda metade do século 20 – um período de grandes saltos em todos os segmentos humanos -, também naquele seminário o futuro foi o tema dominante. E coube a mim, na ocasião, fazer o papel de patinho feio ou profeta aloprado.
Olhando para trás, 20 anos depois, a cena me parece muito divertida.
Em 1995, o Brasil estava sendo apresentado à Internet. O e-mail ainda causava espanto e a web brasileira tinha apenas alguns meses de vida. Eu mesmo fazia parte de um grupo experimental de usuários profissionais, criado pela antiga estatal Embratel, tornando-me, assim, o primeiro jornalista a assinar uma coluna naquela incipiente web verde e amarela.
Era tudo muito modesto e rústico, mas o suficiente para entusiasmar-me e levar-me a endossar então as previsões de alguns cientistas da comunicação, entre eles Nicholas Negroponte, um dos fundadores do Lab, o Laboratório de Mídia do Massachusetts Institute of Technology (MIT), sobre o impacto da nova tecnologia na comunicação de massa e no jornalismo. Negroponte antevia um futuro sem jornais e revistas impressos e com a notícia sendo acessada em telas portáteis, em tempo real. E isso me parecia factível no prazo imaginado pelo cientista: 50 anos.
Aterrissei no seminário da UnP embalado por minhas emoções e por essas ideias, mas ao repetir as previsões de Negroponte provoquei ceticismo e até fui alvo de ironias. Aquele era um cenário impactante para a maioria de meus colegas e houve mesmo quem, conhecendo-me desde a adolescência, lembrasse que desde jovem eu costumava “delirar”.
Bom, aquele delírio não era exatamente meu, mas de loucos como Negroponte, e a reação de meus colegas não era inédita. Também eles ecoavam a opinião de grandes jornalistas internacionais e estavam afinados com a certeza - equivocada - das empresas jornalísticas de que o seu negócio jamais seria afetado por uma tecnologia que lhes parecia direcionada ao entretenimento e às comunicações pessoais.
O preço dessa descrença, como se sabe hoje, foi alto para profissionais e empresas, mas estamos pagando pelo tempo perdido e nos redimindo com a humildade de tentar novos modelos editorais e de negócios, expondo-nos ao darwinismo que permeia todo processo de mudança.
Que ideias irão vingar? Só o tempo poderá dizer. Por enquanto, contento-me em me divertir lembrando aquele dia de 1995. Estávamos todos errados, inclusive eu e Negroponte, pelo menos quanto à velocidade das inovações. As mudanças vieram em 20 e não em 50 anos. E o NOVO está aqui para provar, pois, como já dizia a canção de Belchior, “o novo sempre vem”.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 01/12/15 ]
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