Postado em 11 Dec 2015 12 26 Textos Anteriores
Crianças hiperativas e com déficit de atenção
são um problema na escola, mas são os adultos os
que mais sofrem com os efeitos desse transtorno
por JOMAR MORAIS
Entre os males listados na Classificação Internacional de Doenças, a CID, da Organização Mundial de Saúde, o TDAH ou transtorno do déficit de atenção e hiperatividade tem preocupado os especialistas por sua rápida expansão global. TDAH é um desses rótulos que caem bem numa época em que codificar como transtorno todo comportamento não convencional distrai o indivíduo das questões de fundo e ajuda a engordar a conta bancária de laboratórios, clínicas, médicos e terapeutas especializados. Afinal, o TDAH é visto apenas como um distúrbio neurobiológico e, assim, passível de tratamento com drogas químicas.
Sem a intenção de fazer trocadilho, penso que, aceitando ou não o modismo dos rótulos, em relação ao TDAH é bom que estejamos atentos.
Calcula-se que 6% da população mundial convive com o problema – isto é, 420 milhões de crianças, jovens e adultos padeceriam desse transtorno. Mas aí, talvez, estejamos sendo complacentes. Quando vejo a descrição dos sintomas do déficit de atenção e da hiperatividade, que podem ou não se manifestar conjuntamente, concluo que muito mais gente sofre hoje de TDAH, privando-se de uma vida saudável e serena.
Confira comigo. Em resumo, as pessoas com TDAH não conseguem manter a atenção em eventos corriqueiros (uma conversa, uma palestra, um filme, a leitura de um livro) e estão constantemente entretidas com devaneios que não as permitem focar o presente, realizar projetos, serem minimamente organizadas ou curtir um momento agradável. Seu furacão mental sempre as conduzem à procura por novidades, razão pela qual podem passar horas na Internet ou no celular – espaços onde podem dar vazão à sua ânsia por novos estímulos – ou em jogos eletrônicos. Impulsivas, falam e agem sem pensar e não sabem lidar com a frustração, reagindo com violência ou depressão.
Portadores de TDAH não conseguem ficar parados, necessitam sempre estar fazendo algo, mas isso nem sempre se traduz em movimentos externos. Muitos são tranquilos por fora enquanto suas mentes fervem, devastando a paz íntima e, não raro, a convivência com os outros.
Se observamos em torno de nós e a nós mesmos, constataremos que esse elenco de sintomas faz parte de um número de pessoas bem maior que o da estatística da OMS. E se lançarmos um olhar para o passado, principalmente para tradições espirituais como o budismo, que se ocupa do estudo da mente e seu processo, veremos que o TDAH é nosso companheiro milenar e tem menos a ver com a avalanche de estímulos de nossa sociedade e com distúrbios neurobiológicos do que com a nossa ignorância existencial e inabilidade de lidar com a mente.
Há milênios, técnicas de meditação - que nos tornam aptos a ver com clareza e a reconhecermos as distrações e, sobretudo, nos levam a perceber a natureza impermanente do ego, o ponto central nos processos de TDAH – tem sido uma ferramenta eficaz para nos livrar do inferno de viver sem fruir a vida, sem sentir o doce sabor da plenitude.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 08/12/15 ]
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