TEMPO – Então, de repente, a questão: o que é o tempo e como estamos intricados com ele no mistério maior da vida? 

Muita gente respeitável, de cientistas a filósofos, poderá ajudá-lo a encontrar respostas que, em sua maioria, o levarão a admitir que existimos no tempo – explicação que, em princípio, justificaria nossa servidão ao relógio e ao tempo psicológico. 

Contesto, mas, a poucas horas do reveillon, evito perder-me numa discussão complexa e me contento em apenas revelar um segredinho: quando descobri, também com a ajuda de filósofos e cientistas, que é o tempo que existe no ser (como função da mente), e não o contrário, meu humor e meu jeito de lidar com os eventos se alteraram, liberando-me de uma enorme carga de ansiedade e angústia.

SORTE E FELICIDADE – Em 2002, ao escrever sobre a felicidade, na revista Superinteressante, abri o texto com essa lenda taoísta: 

“Numa aldeia do norte da China, vivia um ancião cuja única posse era um cavalo. Certo dia, o animal desviou-se do pasto e sumiu nas terras de uma tribo adversária. Os vizinhos, condoídos, foram ao encontro do aldeão para consolá-lo mas, surpresos, ouviram o velho dizer: "Talvez isso seja uma benção". Após alguns meses, o cavalo retornou, acompanhado de uma égua, e a vizinhança apressou-se em parabenizar o ancião. Outra vez, ele causou espanto. "Talvez isso vire um infortúnio", afirmou. O casal de animais reproduziu e, em pouco tempo, o aldeão tornou-se próspero proprietário de um haras. Mas numa tarde seu filho, que adorava cavalgar, caiu do cavalo e quebrou uma perna, motivando de novo o lamento dos amigos. "Talvez isso seja uma benção", repetiu o pai. Meses depois, tribos inimigas atacaram a aldeia e todos os homens saudáveis foram convocados à guerra. A maioria morreu. O ancião e seu filho inválido, no entanto, escaparam da carnificina.”

Moral da história: devemos olhar para a sorte e o infortúnio como opostos em um mesmo ciclo de interação e transformação. Eles não existem sozinhos no teatro da existência, sendo natural que se revezem na linha do destino. A sabedoria de viver consiste em saber lidar com o movimento da vida, usando-o a nosso favor com o manejo de recursos interiores.

CONVIVÊNCIA – Nas redes encontro uma postagem sobre como usar bem as horas: “Já não tenho tempo para lidar com mediocridades”, diz a mensagem. “Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados, invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (…) Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturos. (…) Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa”.

Bom, eu assinaria embaixo não fossem o detalhe da pressa – quem pode curtir, de verdade, a existência com sofreguidão? - e a arrogância do autor ante a fragilidade humana. 

Descobrir que a vida é além do tempo sempre acende em nós a serenidade, a compaixão e a capacidade de surfar nas ondas da incerteza. E não será isso o essencial?

Feliz 2016!