Postado em 15 Jan 2016 00 33 Textos Anteriores
Metade da população está concentrada
em cidades superpovoadas e usa apenas
1% do território dos continentes
por JOMAR MORAIS
Desde o século passado, preocupamo-nos com as dificuldades que emergeriam de uma Terra superpovoada e, então, temos imaginado soluções que escapam às nossas possibilidades tecnológicas e de gestão de recursos. Há quem considere até migrações para outros planetas – o que, aliás, é um dos argumentos que nos levam a explorar o espaço cósmico.
Existem hoje 7,3 bilhões de humanos, três vezes mais do que em 1950, aparentemente porque o progresso, sobretudo econômico e científico-tecnológico, reduziu drasticamente a mortalidade, ampliou a expectativa de vida e aumentou a produção de alimentos. Acrescente-se a isso as mudanças de hábitos que sucederam a melhoria econômico-social e entenderemos porque não temos hoje o quadro imaginado pelo economista Thomas Malthus em 1798 (o colapso de uma humanidade que se reproduziria em escala geométrica, em descompasso com o aumento aritmético da produção de alimentos), pois nesse novo contexto também reduzimos as taxas de natalidade, pelo menos em países mais desenvolvidos.
Mas, em números absolutos, há mais fome e mais gente fugindo da fome nas regiões excluídas do almoço dos ricos e dos remediados. E há problemas ambientais e sociais em escala ascendente nas cidades superpovoadas e caóticas.
A questão é que, quando olhamos para o mapa do mundo e para estatísticas, percebemos que a culpa que atribuímos ao crescimento demográfico pelos problemas sociais e ambientais talvez esconda o desejo de não encararmos causas “não convencionais” desses eventos, cuja solução mexeria com nossa zona de conforto, exigindo de nós novos consensos baseados em respeito, partilha e até renúncia.
Sabe-se agora que metade dos 7,3 bilhões de habitantes da Terra ocupam apenas 1% do território dos continentes. São os que vivem nas cidades, principalmente nas grandes urbes, amontoados em torno de infraestruturas nem sempre suficientes para contemplar tanta gente. Na ilha de Java, na Indonésia, 140 milhões de pessoas vivem num espaço do tamanho do estado de Nova York, nos EUA. No Cairo, no Egito, mais de 1 milhão de pessoas compartilham apenas 14,4 quilômetros quadrados.
As cidades se tornaram uma solução econômica para repartir os frutos do progresso material para um número maior de pessoas, mas seus custos, sobretudo os custos sociais medidos em qualidade de vida, tem se tornado cada vez mais altos. Entre tantas manifestações nocivas catalizadas por essas aglomerações caóticas – povoadas de indivíduos, em grande parte, indiferentes a valores éticos como compaixão e solidariedade -, temos hoje o aumento da competição (em detrimento da colaboração), do individualismo, das ações predatórias, do cultivo do medo e da violência física e moral.
Não seria hora de repensarmos o uso que temos feito de nossa casa – a Terra?
Saber que no planeta existem espaços e recursos sobrando reforça a minha crença de que, por enquanto, o egoísmo e avareza são os únicos obstáculos que contam frente à nossa aspiração de construir um mundo melhor.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 12/01/16 ]
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