Postado em 25 Feb 2016 19 06 Textos Anteriores
A Inteligência Militar britânica rompe
o preconceito e se torna um dos
lugares mais amigáveis para gays
por JOMAR MORAIS
Enquanto aguardo, no aeroporto Heathrow, em Londres, o avião da British Airways que me levaria a Tel Aviv, uma chamada na primeira página do jornal The Times faz-me refletir sobre quanto o mundo mudou para melhor, apesar das tragédias e da iniquidade que o nosso egoísmo não cessa de produzir.
“MI5 é o empregador mais amigável para gays no Reino Unido”, diz o título da nota que remete a um suplemento sobre “Igualdade no Trabalho”, produzido em parceria com a Stonewall, tradicional organização de defesa dos direitos dos homossexuais. MI5 é a sigla para a 5ª seção de Inteligência Militar, responsável pela segurança interna da Grã-Bretanha e parceira inseparável do MI16, o núcleo de espionagem externa.
O “gancho” para a reportagem é a pesquisa anual realizada pela Stonewall entre empregados de empresas e órgãos públicos para avaliar o efeito das campanhas contra a discriminação de minorias, principalmente a dos homossexuais. A pesquisa deste ano ouviu mais de 60 mil empregados de 400 entidades e mensurou, entre outros, os níveis de respeito aos direitos civis, inclusão e incentivo a que os funcionários diferenciados assumam sua identidade sexual.
O MI5 está no topo da lista de 100 empresas e organizações mais igualitárias do Reino Unido, mas não é a única entidade a lidar com assuntos estratégicos e de segurança a figurar na relação. O próprio Exército britânico ocupa a 32ª posição, o MI16 a 36ª e algumas corporações policiais aparecem à frente de empresas privadas e organizações civis.
No MI5, uma ativa rede LGBT (entre analistas e agentes de informação), com mais de 80 membros, promove continuamente workshops e programas para encorajar outros homossexuais da Inteligência a se abrirem com os seus colegas acerca de sua sexualidade. E, por trás desse incentivo está a convicção – que é também o móvel das campanhas da Stonewall – de que um profissional trabalhará e usará melhor os seus talentos se conseguir ser ele mesmo no ambiente corporativo.
Sinais dos tempos... de tempos melhores para a humanidade.
Ao ler a notícia alvissareira do The Times não há como não recordar Alan Turing, o matemático e gênio da computação que, servindo ao mesmo MI5 durante a 2ª Guerra Mundial, quebrou o código secreto da comunicação alemã e evitou que Hitler reduzisse Londres a uma montanha de escombros. Perseguido por ser homossexual, sua glória patriótica foi levada ao lixo e, para não ser preso, ele teve que se submeter a sessões de aplicação de hormônios que o atiraram ao fosso da depressão e da morte prematura aos 44 anos.
Não há também como não lembrar Anthony Blunt, o agente duplo do MI5, homossexual que traiu seu país em favor dos soviéticos.
Num novo patamar de compreensão da condição humana e da ética, o MI5 e todas as organizações inclusivas nos chamam a atenção para o óbvio que o preconceito manteve oculto por tanto tempo: não é a condição sexual que molda o caráter, mas o caráter pode dar dignidade à sexualidade e a todas as coisas e situações que constituem o caminho de um homem.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 23/02/16 ]
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