Postado em 03 Mar 2016 18 48 Textos Anteriores
"Conhecer a si mesmo é esquecer
de si mesmo. É identificar-se com todas
as existências do cosmos" - Dogen
por JOMAR MORAIS
Impressiona-me como o tema espiritualidade tem conquistado vasta audiência entre nós. Ele invadiu a arte, a ciência e o dia a dia de pessoas e instituições. Nada mal para um mundo que rotulamos de materialista.
Impressiona-me também o modo como a espiritualidade é encarada e cultivada nos dias atuais: algo miraculoso e utilitário que se adquire em cursos, “saber” que se compra com o cartão de crédito para, no final, contemplar-nos com bem-estar, leveza de plumas e asinhas de anjo. Nada bem para um mundo que se imagina civilizado e esclarecido.
Quando olho para os exércitos de fiéis batalhando por suas igrejas com fervor de torcida do futebol... Quando me deparo com os filhos tardios da New Age faturando em série com seus workshops e “fast-técnicas” para realizar em almas aflitas o nirvana em cinco minutos... Quando vejo tantos tentando comprar a paz através de rituais inócuos e paralisantes... Então percebo a falta que faz, em nosso tempo de fatuidades, um mestre com a clareza de Dogen, o iniciador do Soto Zen.
“Conhecer a si mesmo é esquecer de si mesmo”, disse Dogen. “E esquecer de si mesmo é estar identificado com todas as existências do cosmos. Estar identificado com todas as existências do cosmo é despojar-se do corpo e da mente. Despojar-se do corpo e da mente é despojar-se do seu eu”.
Ou seja: Dogen trafega na contramão das promessas dos gurus e especialistas e da expectativa das pessoas autocentradas, cujas pulsões egóicas serão reforçadas pela esperança de ganhos pessoais aqui ou além, perpetuando assim o fluxo de aflições que tem origem na ignorância.
Dogen certamente faria estremecer o comércio e o jogo de poder espiritual dos dias de hoje com suas referências à insuficiência ou mesmo inutilidade da “prática intelectual” e sua exortação veemente à gratuidade e à ausência de expectativa de lucro, ainda que isso se resuma ao desejo de tornar-se iluminado.
Afundados em nosso egoísmo, forjamos um materialismo espiritual no qual nos enganamos e perdemos tempo em busca de um “desenvolvimento pessoal” que, sozinho, jamais nos livrará da cegueira essencial: a incapacidade de ver que não existimos separados, mas somos parte de um fluxo interminável no qual a vida se manifesta multifacetada.
Depois de Dogen, que morreu no século 13, eu chamaria Matieu Riccard, o cientista francês que virou monge e pode ser acessado na Internet. Ele nos lembraria que “a autotransformação só é significativa se nos permitir servir aos outros”, pois, “desenvolvimento pessoal sem bondade, nada mais é do que a construção de uma torre de marfim de egocentrismo” e “meditação sem bondade amorosa é equivalente a passar alguns momentos de silêncio na bolha do próprio ego”.
OK, isso não é fácil e nem pode ser realizado de um dia para o outro. Mas dá para começar treinando a atenção. “A atenção tem um impacto profundo no caráter e no comportamento ético”, diz Alan Wallace, físico e ex-monge. “Uma mente distraída sucumbe facilmente a uma miríade de aflições”. E é aqui que nos perdemos e nos tornamos vulneráveis.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 01/03/16 ]
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Lavonn
14 May 2016 13 29
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Tommy
11 May 2016 22 34
Je cite de mémoire. Ce n’est peut-être pas ce qu’a écrit exactement Babalas :Hédoniste est un dangereux manipulateur de citations.Et son groupe sanguin n’est toukours pas enÃr©istreg.- Seulement: après Babalas, hélas ! Après aïe [ mes couilles !], ouille !!!
Jomar Morais
04 Mar 2016 01 15
Grande abrao, caro Jorge.
Jorge Brana
03 Mar 2016 23 57
Grato pelo texto, Jomar. Nos orienta muito a respeito dos modismos espirituais e nos d bom nimo para continuar na caminhada sincera.