Eu quero votar. E você?
Postado em 20 May 2016 03 04 Textos Anteriores









O debate e o voto popular são a saída para  
unir o país, renovar ideias e lideranças e  
promover um salto de qualidade na política  



por JOMAR MORAIS



E agora, que o PT enredado em petrolões perdeu o poder e a presidenta está afastada, Michel Temer assumiu com  seu ministério pontilhado de políticos denunciados por corrupção e réus e acusados de práticas ilícitas continuam ditando os rumos no Congresso, o que fazer?

Mobilizar a sociedade por eleição já, ora.

Eis a saída para unir um país divido e também o meio viável para que se dê a renovação nos quadros dirigentes e a reconstrução de nossas instituições viciadas.

E é uma proposta audaciosa, sim, pois, para ser completa, além de abalar as regras jurídicas que sustentam neste momento o velho jogo de cartas marcadas da política, deveria incluir uma nova Constituinte, precedida de amplo debate nacional.

Se a mídia brasileira não fosse parte interessada e atuante na atual guerra pelo poder – por motivos particulares e torpes das famílias que detém o controle das redes de TV, jornalões e revistas – certamente a proposta de convocação de eleições presidenciais e da Constituinte já estaria nas manchetes e nos editoriais. Ela é eficaz e honesta, por incluir o respeito ao povo, de onde deve emanar o poder na democracia, e à maioria silenciosa, cuja apatia se deve mais à constatação de que todo o corpo institucional da política – isto é, os partidos, os políticos e as empresas que os financiam e subornam, e as leis que os regem – está sujo de lama.

Para a mídia internacional, trata-se da solução duradoura que não abalaria a crença do mundo em nossa jovem democracia.

O New York Times, ainda o maior jornal do mundo, defendeu essa ideia ao expor, em editorial, que o afastamento de Dilma, em vez de resolver, deve piorar a crise brasileira, pela evidência dos fatos: desce uma presidenta ineficaz, mas que não é acusada de corrupção, e sobe um presidente sem respaldo popular, ladeado por ministros envolvidos em casos de corrupção e ele próprio respondendo a acusação de crime eleitoral. “Dilma pagou um preço desproporcional por irregularidades administrativas enquanto vários de seus detratores mais ardentes são acusados de crimes mais escandalosos”, diz o jornal. “Eles podem se dar conta em breve que grande parte da ira da população focada na presidenta será redirecionada a eles".

Já o The Guardian londrino publicou duro editorial em que afirma que “o sistema político brasileiro é que deveria ser julgado, e não a presidenta da República”. Para o Guardian, “o sistema político é tão disfuncional que a corrupção é 'praticamente inevitável' para a governabilidade. Dilma herdou esse legado infeliz e começou a perder o controle em um período de declínio econômico”.

Essas posturas não significam apoio ao PT, um partido hoje imerso no pântano do jogo político convencional, como seus adversários. Mas é o debate nacional, com autocrítica da sociedade, e o voto popular - e não uma manobra capitaneada por políticos interessados em salvar a própria pele - que podem dar uma chance a novas ideias, novos padrões e novos líderes que conduzam o Brasil a um salto de qualidade na política e na gestão do país.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 17/05/16 ]

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