Postado em 02 Jul 2016 01 15 Textos Anteriores
"Julgar uma pessoa não
define quem ela é. Mas isso
define quem é você"
- Wayne Dyer
por JOMAR MORAIS
Vejo o desfile de postagens iradas, textos injuriosos e boatos mil nas timelines das redes sociais e lembro de um dos mais belos ensinamentos de Jesus: “Não julgueis”. Pronunciada sobre o pequeno monte, em frente ao Mar da Galileia, a frase logo seria atropelada pelas disputas internas no Cristianismo nascente e, mais tarde, pelo terror de uma Igreja absolutista que perseguiu heréticos e os queimou na fogueira. Nos dias atuais, de Cristianismo formal e distante de sua essência, não passa de ornamento litúrgico, sem serventia na selva competitiva cotidiana.
Jesus falou a homens de uma sociedade ancestral, onde a comunicação, exceto para os poucos com acesso à escrita, só podia acontecer face a face, com todos os benefícios do olho no olho e da entonação da voz, esses insubstituíveis reveladores de emoções e intenções. Logo, não seria exagero dizer que, por trás de suas palavras, está o apelo para que observemos atentamente o nosso próximo antes de sentenciá-lo, em busca das causas (histórico de vida) e das motivações (a intenção e a emoção a ela relacionada) de seus atos.
Em tese, seria mais fácil compreender e praticar o ensinamento “não julgueis” naquele tempo de contatos humanos de primeiro grau do que em nossa época de sms, whatsaps e postagens que suprimem a voz e a expressão facial. Mas a verdade é que, isolados no medo que nos opõe aos outros e nos faz desgraçados na solidão, jamais precisamos tanto considerar e aplicar a velha recomendação cristã quanto hoje – dentro ou fora do contexto religioso.
Em seu livro “A Linguagem das Emoções”, Paul Ekman, psicólogo e professor na Universidade da Califórnia, oferece-nos uma boa contribuição nesse sentido, ao enfocar nossas dificuldades para entender emoções e os erros que cometemos ao não entendê-las ou desconsiderá-las.
“É importante lembrar que os sinais emocionais não revelam sua fonte”, diz Ekman. “Podemos saber que alguém está furioso sem saber exatamente porquê. Pode ser raiva de nós, raiva direcionada a si próprio ou uma lembrança que não tem a ver conosco”. E é aí que, segundo o psicólogo, podemos cometer o “erro de Otelo”.
Na peça de Shakespeare, Otelo acusa sua mulher, Desdêmona, de estar apaixonada por Cássio e exige que ela confesse, pois vai matá-la por traição. A mulher pede para que Cássio seja chamado, pois ele atestará sua inocência, mas diante da revelação de que Otelo matara Cássio, desespera-se e apela em vão ao marido.
Desdêmona: “Ai! Ele foi atraiçoado e estou perdida!
Otelo: Fora, prostituta! Chora por ele na minha cara?
Desdêmona: Oh! Desterre-me, meu senhor, mas não me mate!
Otelo: Para baixo, prostituta!
O erro de Otelo, diz Ekman, não foi a incapacidade de reconhecer os sentimentos de Desdêmona, pois sabia que ela estava angustiada e com medo. Foi acreditar que as emoções possuem uma única fonte, interpretando assim a angústia e o medo da esposa como a reação de uma mulher adúltera pega em sua traição. Ele a mata sem considerar que suas emoções podiam ser a reação de uma mulher inocente, impotente para provar sua inocência.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 28/06/16 ]
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