Materialismo e felicidade
Postado em 08 Jul 2016 14 12 Textos Anteriores










Um estudo global revela: quem valoriza a  
busca de posses e riquezas vive menos feliz  
e tende a tratar pessoas como coisas  


por JOMAR MORAIS


Penso que não é preciso estudo acadêmico para constatar-se que materialismo não combina com felicidade. Não seria bastante olharmos para a nossa própria vida? Insegurança e medo, dificuldade de estabelecer relacionamentos sinceros, agressividade, ansiedade, depressão, debilidade orgânica e doenças variadas costumam aumentar à medida que aceleramos na corrida às posses e ao poder.

É fato, é óbvio. Mas é bom saber que aquilo que, eventualmente, poderia ser visto como uma crença ou uma elaboração filosófica, tem sido provado por pesquisas científicas respeitáveis. É o caso do estudo realizado em diferentes países, sob a coordenação do psicólogo Tim Kasser, cujos resultados foram reunidos em 2002 no excelente livro “The High Price of Materialism” (O alto preço do materialismo), publicado pela editora do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT).

O estudo de Kasser ouviu e avaliou adultos e crianças de diferentes classes sociais em países distintos, dos Estados Unidos à Austrália e Coréia do Sul. Com isso, acabou indo além dos achados de renomados pensadores e pesquisadores da alma humana, como Carl Rogers, Abraham Maslow e Erich Fromm, que anos atrás atestaram que o bem estar de uma pessoa tem pouco a ver com aquilo que ela acrescenta aos seus bens essenciais: alimento, moradia e vestuário.

As pessoas que valorizam fortemente a busca de posses e riqueza relatam um menor bem estar psicológico do que aquelas que não tem esses objetivos, diz Kasser. E isso gera reflexos nos relacionamentos dessas pessoas, segundo o psicólogo: “Quando alguém coloca forte ênfase em consumir, comprar, ganhar, gastar, considerar o valor monetário das coisas e pensar em coisas durante grande parte do tempo, torna-se propenso a tratar pessoas também como coisas”.

Lamentavelmente, essa situação tende a ficar mais complicada numa sociedade movida pela crença de que, se alcançarmos nossas metas materialistas, teremos o prêmio da felicidade, e pelos interesses econômicos que se beneficiam desse fato, fazendo girar a roda da ilusão. 

O estudo de Kasser mostra que a “hipnose global em massa”, sustentada pela propaganda, a mídia e instituições, tem sido eficaz:

“A porcentagem de estudantes que acreditam ser muito importante ou essencial desenvolver uma filosofia de vida significativa diminuiu de mais de 80% no final dos anos 1960 para cerca de 40% no final dos anos 1990. Já a porcentagem que acredita ser muito importante ou essencial estar muito bem financeiramente subiu de pouco mais de 40% para mais de 70%”.

Se atualizados para 2016 esses percentuais certamente  revelariam um quadro mais dramático, com o imenso devotamento aos símbolos externos da felicidade – entre os quais as posses – ampliando a distância que nos separa da felicidade genuína, baseada numa vida plena de significado e orientada para a virtude (amor e compaixão em primeiro lugar).

Não dá para mudar a situação coletiva em curto prazo, sabemos. Mas, tocado pela dor de uma vida vazia, cada um pode buscar a alternativa.

 [ Publicado na edição do Novo Jornal de 05/07/16 ]


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Jomar Morais
09 Jul 2016 13 54
Grande abraço, meu caro Jorge. Obrigado pelo incentivo.
Jorge Braúna
08 Jul 2016 18 42
Grato pela importante mensagem, amigo Jomar.
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