Postado em 28 Jul 2016 18 14 Textos Anteriores
Por que os poderes do mundo insistem
em subestimar as causas profundas da
violência urbana e do terrorismo?
por JOMAR MORAIS
Divida o mundo entre pobres e ricos e estabeleça entre ambos um muro de preconceitos que impeça o entendimento, a mobilidade social e, sobretudo, a justiça.
Separe as pessoas entre contemporâneas e primitivas, eruditas e ignorantes, sofisticadas e toscas, high-techs e atrasadas, científicas e supersticiosas.
Aqueça esses blocos com a ideia de que a exclusão é natural e, então, refine a divisão entre mansões e casebres, condomínios de luxo e guetos periféricos, consumidores e famintos, dominadores e dominados.
Acrescente algumas pitadas de egocentrismo e dê forma a seções de orgulho nacional, étnico e cultural e, para fazê-las crescer, adicione o fundamentalismo religioso, a ideia de religião verdadeira e de verdade absoluta, o entusiasmo proselitista e os rótulos separatistas de fiel e infiel, povo de Deus e gente ímpia.
Agora leve tudo ao forno da ganância e dos interesses escusos dos políticos profissionais, dos corruptores e corrompidos, dos fabricantes de armas e de todos os que lucram com a dor a humana e logo teremos, como resultado, um mundo insano e feroz, a estupidez e a dor superlativa.
Senhoras e senhores, está servido o bolo do terrorismo!
* * *
Impressiona-me como algo tão óbvio - as causas profundas do terrorismo - não sejam levadas em conta quando governantes globais se reúnem para enfrentar a maior ameaça à paz de nosso tempo. É como se os homens mais poderosos do mundo e aqueles que os influenciam, aí incluído o poder econômico, desconhecessem a lei de causa e efeito, escancarada em cada fenômeno do universo.
Insiste-se em combater o terrorismo como um evento sem causa, uma ação de psicopatas que pode ser extirpada com o simples uso da força militar, ideia que é contraditada pelos fatos.
Por exemplo. O trilhão de dólares gasto só pelos Estados Unidos entre 2001 e 2010 para combater o terrorismo não conseguiu destruir a Al Qaeda e ainda contribuiu para o surgimento do tenebroso Estado Islâmico. Todas as potências militares ocidentais reunidas no Afeganistão não conseguiram evitar que o território fosse retomado pelo talibãs (hoje o governo só governa a capital, Cabul). E, depois de uma guerra que o próprio governo americano hoje reconhece como um erro, os Estados Unidos abandonaram o Iraque à própria sorte de atentados e território subtraído pelo Estado Islâmico.
Não há dúvida de que o terror e as ideologias de ódio nascem de mentes enfermas e fascinam aqueles que acumulam transtornos mentais, frustrações, ressentimentos ou se sentem vazios de significado. No entanto, o simples fato de a mensagem terrorista estar sensibilizando cada vez mais ocidentais – de ingleses a caipiras brasileiros -, muitos já integrados ao exército do terror, é, talvez, o maior entre tantos sinais de que só a estratégia militar jamais vencerá o terrorismo.
A loucura do terror emerge de uma humanidade doente, plena de egoísmo e vazia de amor. E não haverá solução estável para isso sem revermos a nós próprios e as nossas estruturas.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 26/07/16 ]
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