Estados em conflito
Postado em 02 Aug 2016 14 07 Textos Anteriores











Três estados estão em luta: o oficial,  
o privado e o do crime. No meio deles,  
o povo, que é quem sofre mais  


por JOMAR MORAIS


No texto da semana passada, ao falar sobre as causas profundas do terrorismo e da violência urbana – sempre relegadas pelos poderes do mundo -, reafirmei a minha opinião de que apenas a ação militar jamais acabará com esses graves transtornos, gerados a partir dos contrastes e perversões de um mundo criado e sustentado pelo egoísmo, injusto e segregador. A violência atual é, sobretudo, uma consequência dos valores reais que praticamos no dia a dia.

Mas é preciso também considerar que, sobre esse alicerce  não formal, surgem e crescem fatores agravantes relacionados às instituições, que sempre refletirão a ética, os hábitos e as intenções dos indivíduos que as compõem e dirigem. Nesse sentido, o caos na segurança pública, experimentado no Rio Grande do Norte e em todo o país, leva-nos a novas considerações.

Como muitos cidadãos, fico perplexo diante da incapacidade das estruturas de segurança – polícias militar e civil e serviços de inteligência – para enfrentar e deter meia dúzia de marginais sem planejamento estratégico, que se valem de ameaças e violência bruta para paralisar uma capital. E fico ainda mais pasmo quando, para resolver uma questão local de segurança, protagonizada de forma amadora por agentes do crime, seja necessário recorrer-se a forças federais. Não seria isso um sinal inequívoco da falência das estruturas de segurança, prejudicadas, de Norte a Sul, pela falta de rigor seletivo, que favorece o despreparo profissional, os desvios de função e mesmo a corrupção, que transforma muitos agentes da lei em subalternos das máfias?

A verdade é que aqui, como no resto do país, o cenário é mais complexo do que nos parece à primeira vista e envolve poderes formais e informais em disputa por espaço, ganhos e privilégios.

Quanto a esse detalhe, faço minhas as palavras precisas do amigo e escritor Guto de Castro, em seu texto recente no Facebook:

“O país é governado por 'três vias de poderes': o estado oficial, o estado privado e o estado ligado ao crime organizado. 

“Limitado, o estado oficial tem mantido sobre sua guarda os gestores e os amigos dos gestores, que falam em nome de um governo soberano. Com o estado oficial limitado, cresce o estado privado (educação privada, saúde privada, condomínios residenciais e comerciais,segurança privada). A terceira via é o estado do crime organizado, que "protege" e "condena" sob sua tutela o indivíduo sem estado público e estado privado.

“Todavia, essa relação entre as 'três forças' agora parece insustentável, uma vez que os três poderes estão lutando entre si. E, assim, percebe-se que o problema não será resolvido somente com a presença da Polícia ou Exército na rua, mas com a própria ideia de o estado oficial assumir, de fato, suas prerrogativas de estado protetor e único de direito e de dever. (...)

“Concluímos que há muito o velho estado deixou de ser um lugar seguro e com lei. E sem lei, vale tudo. O produto desse encontro não poderia ser outro senão a violência e a insegurança generalizada”.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 02/08/16 ]

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JOMAR MORAIS
03 Aug 2016 17 45
Obrigado, Mrcia Filgueira, pelo incentivo, que reparto com o Guto de Castro, que inspirou parte do texto.
Mrcia Filgueira
02 Aug 2016 15 59
timo texto, Jomar!
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