O valor da diferença
Postado em 16 Sep 2016 01 47 Textos Anteriores









A simples realização da Paralimpíada é uma  
prova de que o mundo avançou, mas a pífia cobertura  
da mídia nos diz que não foi tanto assim  


por JOMAR MORAIS


No último dia 7, aconteceu na arena do Maracanã um espetáculo tão belo e grandioso quanto os da abertura e encerramento das Olimpíadas do Rio. Mas, ao contrário da transmissão ao vivo da festa inicial da Olímpiada, no horário da abertura da Paralímpiada sobrou para os telespectadores as tramas das novelas e um simples flash no Jornal Nacional. Só por volta da meia noite, a emissora que detém a exclusividade das transmissões dos jogos olímpicos no Brasil colocou no ar um vídeo dos “melhores momentos” do evento. E, nos dias seguintes, em vez da cobertura intensiva que mostrou, ao vivo, os feitos dos atletas olímpicos, um modesto Boletim Paralímpico foi tudo de especial que a TV ofereceu aos atletas diferentes.

É compreensível, considerados os valores que regem o mundo e os negócios.. 

Certamente os responsáveis por planos de mídia concluíram que homens e mulheres aleijados, cegos e mutilados não constituem um apelo forte para a maioria das pessoas e, sem audiência, não há publicidade e nem o lucro que a publicidade traz. Com menos verba, só um boletim.

Ainda assim, a simples realização da Paralimpíada é uma demonstração do quanto a humanidade tem avançado em matéria de inclusão, reconhecimento e senso de justiça. A Paralimpíada é, talvez, o ato mais emblemático desse esforço por respeito pela diversidade, expresso em condições que reduzem ou eliminam as distâncias físicas e psicológicas entre “normais” e “especiais”: a aceitação da diferença, o acesso ao estudo e ao trabalho, a garantia da mobilidade e a participação dos deficientes nas decisões da sociedade.

Os passos dados até aqui impressionam, mas isso não significa que acabamos com a iniquidade no planeta. Nesse sentido, temos ainda um oceano a atravessar.

Existem bilhões de pessoas, com corpos perfeitos ou não, vítimas do egoísmo e do individualismo que nos levam a discriminar e oprimir os que nos parecem diferentes.

Neste momento, cerca de 3 bilhões de homens, mulheres e crianças vivem abaixo da linha de pobreza, passando fome em vários continentes apenas porque o nosso pensamento político e econômico condena à miséria os que não estão aptos a competir e gerar “riquezas”. Quando muito, oferece-lhes migalhas de suas mesas.

Neste momento, milhões de pessoas são discriminadas – ainda! - pela cor de sua pele, relegadas a postos de trabalho áridos ou impedidas de ascender como pessoas e profissionais.

Neste momento, bilhões de seres humanos são discriminados e perseguidos por sua condição sexual, seus sentimentos, suas crenças, seus ideais libertários.
Neste momento – ainda! - muitos são presos e torturados por suas convicções e sua ação visionária, por se recusarem a reproduzir o pensamento e as estruturas de um mundo velho, guiado pelo medo.

Mesmo assim, o evento Paralimpíada é uma chama que nos faz refletir sobre as vitórias já obtidas, com suor, destemor e, não raro, sangue, e nos remete à necessidade de insistirmos por mudanças que nos farão reconhecer e respeitar a dignidade de cada homem.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 13/09/16 ]

Visite a TV Sapiens >>> www.youtube.com/sapiensnatal

Para abrir a janela de comentarios, clique sobre o titulo do texto ou sobre o link de um comentario >>:
Para abrir a janela de comentarios, clique sobre o titulo do texto ou sobre o link de um comentario

Deixe um comentario
Seu nome
Comentarios
Digite o codigo colorido