Silenciar é preciso
Postado em 13 Oct 2016 00 17 Textos Anteriores













Estamos doentes, arrastados por um mundo  
excessivamente barulhento, cada vez mais  
viciados em drogas, catarses e ilusões.  



por JOMAR MORAIS


Pela 12ª vez em 11 anos, eu e um grupo de amigos do Sapiens, o nosso núcleo de estudos filosóficos e meditação, estaremos reunidos em uma propriedade rural, a partir desta sexta-feira, para apenas ficar em silêncio, longe dos papos e narrativas que cada um de nós engendra a todo momento para os fatos e do barulho das ruas e casas, sempre sonoros e incandescentes graças às tevês, os celulares, os computadores e a onipresente internet.

É complicado, para a maioria, entender que, no século 21, um punhado de pessoas decida simplesmente silenciar por alguns dias. E tal é a nossa viciação em tagarelice e barulho que chegamos a acreditar que ficar calado é algo difícil, quem sabe, impossível. É um sinal dos tempos. Um sinal do quanto a civilização, em seu reverso, piorou nossa qualidade de vida e nos adoeceu.

A impossibilidade de silenciar revela que perdemos a capacidade de nos relacionarmos com a natureza e, sobretudo, conosco mesmos. Perdemos a conexão com a nossa base e, como consequência, viramos esses seres reativos, aprisionados no medo. Talvez não haja tragédia maior que reduzirmos a tal ponto nossa existência e continuarmos respirando.

A beleza da vida é feita de movimento e pausa. É assim no universo inteiro e na relação cúmplice entre a vida e a morte. Mas a perda de conexão nos levou a trafegar na contramão. Para fugir de uma vida sem horizontes e das dores causadas pelo egoísmo e suas mesquinhas opções, imaginamos desgraçadamente que a agitação perpétua pode ser um bom refúgio.

Deixamos que o barulho invadisse nossas folgas, que a bebida encharcasse nossos feriados, que a segunda-feira se tornasse o dia da exaustão e que todas as coisas boas e saudáveis – até mesmo a família e o amor – ficassem para depois, num dia que nunca chega.

Não é exagero dizer que estamos doentes em um mundo excessivamente barulhento, com ou sem sons. Nossa alma enferma, desorientada em hábitos de vida cada vez mais insalubres, tem destruído a saúde de nossos corpos, tornando-nos eternos viciados em drogas, catarses e ilusões.

Este é um mal global que, aos poucos, começa a chamar a atenção de especialistas e autoridades da área da saúde. Nos  Estados Unidos cresce a consciência de que a meditação – que nos leva ao silêncio e a auto-observação – é um recurso adequado para enfrentar a epidemia de ansiedade e as manifestações de violência, a partir do contexto da escola.

Nos últimos 50 anos, a pesquisa científica demonstrou os benefícios da prática meditativa regular, seja no campo psicológico ou no corpo, como a regulação de hormônios e neurotransmissores, além do fortalecimento do sistema imunológico. E, recentemente, a pesquisa de ponta revelou um dado que confirma a excelência da meditação: o cérebro é plástico e pode ser alterado mediante exercícios introspectivos.

A meditação, disciplinando a mente, é ginástica para o cérebro que, alterando sinapses, reorganiza o perfil psicológico, deixa o corpo saudável e muda o nosso olhar sobre a vida e o universo.


[ Publicado na edição do Novo Jornal de 11/10/16 ]


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