Postado em 09 Dec 2016 18 41 Textos Anteriores
Feto de 3 meses esquartejado durante
um aborto: você diria que nesses
restos jamais pulsou uma vida plena?
por JOMAR MORAIS
Meses atrás fui apresentado à cadela Kelly, que mora com um grupo de mendigos e leva vida de rainha. Todas as noites, essa vira-lata costuma ser visitada por pessoas que lhe oferecem ração, travesseiros e outros mimos. Quando Kelly engravidou, do nada surgiu uma veterinária que lhe prestou assistência até o nascimento dos filhotes. Os cachorrinhos nasceram saudáveis e serelepes.
Como o caso de Kelly não é uma exceção, pois cresce a consciência de que devemos proteger o direito de viver dos animais, fico pensando no mundo maravilhoso que estamos construindo, apesar das injustiças e da brutalidade corriqueira, a partir de nosso foco na vida, esse bem máximo, esse mistério inefável.
A sensibilidade para sentir a vida, mesmo sem saber explicá-la, tem nos conduzido ao respeito, ao amor e à compaixão.
Eliminamos a escravidão formal, reconhecemos a diversidade humana, deploramos a violência e a exploração dos mais fracos e ampliamos nossa percepção comunitária até à biosfera, pois, a essa altura, já sabemos que a vida que pulsa em nós não está separada da demais seres. Respeitá-la e preservá-la em todas as suas manifestações é cuidar de nós próprios e do sopro que nos anima.
É assim que vejo, é assim que penso. E é por isso que tenho dificuldade de entender porque tanta gente comprometida com a construção desse mundo novo levanta a voz em favor do aborto.
Não que eu seja contra à discussão do tema. Há muito incorporei o conceito de ação apropriada à circunstância, fruto de uma visão transcendente do mistério no qual luz e sombra compõem o espetáculo efêmero das formas. Também sobre o aborto não sou inflexível.
O senso comum, a legislação e até a religião reconhecem que a gravidez pode ser interrompida em situações extremas de dano à vida já consolidada: o risco de morte da gestante, a violência do estupro e mesmo a discutível permissão dada em casos de anencefalia.
O que me impacta é a puerilidade do argumento bradado pelos defensores do aborto incondicional, afinal incorporado pelo STF no julgamento isolado da semana passada, que pode abrir caminho para a descriminalização do aborto no Brasil.
O ministro Luís Roberto Barroso embasou a decisão afirmando que a criminalização do aborto até o terceiro mês de gestação fere direitos fundamentais, como os direitos sexuais e reprodutivos e a autonomia da mulher, a integridade física e psíquica da gestante e o princípio da igualdade. "Já que homens não engravidam, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa matéria", disse Barroso.
Mas seria isso maior que o respeito e a reverência devidos à vida, base de todos os demais direitos?
Bom... mulheres também não tem câncer de próstata, mas isso não isenta os homens de seus deveres, sobretudo, perante a própria consciência.
Sei que resta a questão de saber o que é a vida e onde ela começa. Mas essa - lembremos - não é uma questão religiosa e nem mesmo científica e, sim, ética. A liberação do aborto é um tema ético, cujo encaminhamento terá consequências na forma como vivemos e nos relacionamos.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 06/12/16 ]
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