Perguntar não ofende
Postado em 20 Jan 2017 02 44 Textos Anteriores











Só não ver quem não quer: um estado  
falido e loteado será sempre incapaz de  
mudar presídios falidos e loteados  


por JOMAR MORAIS


Quando será? Onde será? Tempo e lugar podem ser ainda desconhecidos, mas não há dúvida de que uma nova rebelião em presídio acontecerá em breve e outras cabeças rolarão nos pátios ensanguentados, sob a guarda do Estado. Também é certo que virão novos ataques nas ruas, novos incêndios e tiroteios, novos recolhimentos da frota de ônibus, novas transferências de líderes de facções criminosas e, claro, novo chororô por dinheiro público, novas licitações, novas "comissões", caixa 2, corrupção...

Sim, seria ingenuidade abordar a questão da segurança pública no Brasil como algo pontual e isolado do contexto sócio-politico e administrativo do país. 

O sistema prisional está falido porque foi asfixiado por um estado falido, loteado entre máfias de interesses gananciosos e conflitantes tanto quanto as das prisões, onde a força bruta impõe o que do lado de fora surge de jogos viciados à sombra das instituições.

E para que não sejamos injustos com aqueles que nos gerenciam, respaldados por nossos votos, vale lembrar que que um estado falido material e, sobretudo, moralmente emerge de uma sociedade que volta as costas para valores e critérios, para o bom senso e a temperança, para a responsabilidade e o trabalho e onde cada um cuida apenas do próprio apetite, com astúcia e habilidade de um predador.

Vale a pena perguntar e perguntar para que a emoção não nos tire a razão. 

Por que  e como as máfias de bandidos dominam  presídios? Como armas, aparelhos de comunicação, drogas, bebidas e mesmo a prostituição driblam sensores e cruzam grades nas prisóes de Norte a Sul? 

Por que, apesar das evidências, carcereiros e membros de diversos escalões  da segurançaa pública prosseguem ativos em seus desvios de função e atentados à lei? Quem os protege? A quem eles são úteis, dentro e fora do aparelho do estado? Quem perde e quem ganha com o caos no sistema prisional e no conjunto da segurança pública?

Por que, apesar das evidências, atravessamos décadas apostando num arremedo de repressão ao crime, quase sempre à revelia da lei, e relegamos a ação preventiva, aí incluída a educação, a justiçaa social e a integração das populaões marginalizadas? 

Por que, na contramão da lei, impedimos que as prisões realizassem sua função restaurativa e as transformamos em masmorras onde a violência e a corrupção sabotam toda iniciativa?

Não, não me surpreendem os motins, as decapitações, os ataques nas ruas. Essas são tragédias anunciadas há muito tempo. O surpreendente é como a nossa sociedade se mantém com pés, mente e coração na Idade Média em questões humanas e tem sustentado, com sua falta de visão, a situação que aí está.

Não há saída para o sistema prisional - e para o estado! - sem outro olhar, sem uma autocrítica severa e a ousadia de repetir aqui as melhores práticas, como a das prisões escandinavas. 

A alternativa é deixar que o próprio mal seja consumido em seu veneno, mas até lá muito sangue pode tingir pátios e ruas e nenhuma cabeça, nem mesmo a nossa, estará  segura.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 17/01/17 ]

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