Sabedoria do Kohelet
Postado em 14 Mar 2017 05 52 Textos Anteriores











A sabedoria do Eclesiastes, o livro mais  
realista da Bíblia, detona nossas ilusões e  
presenteia-nos com o que nos falta: lucidez  


por JOMAR MORAIS


As estantes, físicas e virtuais, estão repletas de livros que tentam explicar a vida e apontar rumos para multidões ávidas e perplexas. A indústria das fórmulas da felicidade nunca esteve tão robusta. Extravasou dos púlpitos das igrejas, das salas das cartomantes, dos consultórios dos psicólogos e terapeutas... Virou negócio dos bons, gerenciado por empresas e assinado por celebridades que ousam pensar o que não pensam, atestar o que não vivem, ensinar o que não praticam.

E também há um sentido para isso debaixo do Sol, talvez dissesse o Kohelet, o pregador, o sábio anônimo que no século 3 antes de Cristo escreveu a poesia sapiencial do Eclesiastes, certamente o mais realista dos livros da Bíblia. Sempre haverá sábios e tolos, penso. Assim parece ter estabelecido o Programador em seu divino game das formas: nada sobrevive sem o seu oposto.

E ainda assim tudo passa, tudo flui, tudo se transforma. Um dia, despertado da própria tolice, podemos perceber que acima das fatuidades vive o homem que cala e observa. E disso vem paz e contentamento sem a pretensão do tolo de saber e poder. A voz do pregador, emergindo do silêncio, nos aproxima da clareza. Isso basta, é rendição. O encontro com a verdade, aquilo que é.  

Mas... Fala, Kohelet!

"Percebi que a sabedoria é melhor que a insensatez, assim como a luz é melhor do que as trevas. O homem sábio tem olhos que enxergam, mas o tolo anda nas trevas; todavia, percebi que ambos têm o mesmo destino. Aí fiquei pensando: o que acontece ao tolo também me acontecerá. Que proveito eu tive em ser sábio? Então eu disse a mim mesmo: isso não faz o menor sentido! (...) 

"Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos. Isso também não faz sentido. Quando aumentam os bens, também aumentam os que os consomem. E que benefício trazem os bens a quem os possui, senão dar um pouco de alegria aos seus olhos? O sono do trabalhador é ameno, quer coma pouco quer coma muito, mas a fartura de um homem rico não lhe dá tranquilidade para dormir. Há um mal terrível que vi debaixo do sol: riquezas acumuladas para infelicidade do seu possuidor. (...)

"Todo o esforço do homem é feito para a sua boca; contudo, o seu apetite jamais se satisfaz. Que vantagem tem o sábio em relação ao tolo? Que vantagem tem o pobre em saber como se portar diante dos outros? Melhor é contentar-se com o que os olhos veem do que sonhar com o que se deseja. Isso também não faz sentido; é correr atrás do vento. (…)

"Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, (...) tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, (...) tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de jogar fora (…)

"Por isso concluí que não há nada melhor para o homem do que desfrutar do seu trabalho, porque esta é a sua recompensa".

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 07/03/17 ]

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