Quem paga a conta
Postado em 21 May 2017 06 57 Textos Anteriores










Quem paga o banquete no qual o Estado  
sacia a fome de privilégios de empresários,  
políticos e burocratas? O povo sem voz.  


por JOMAR MORAIS


Falamos sobre quem manda no estado (o poder econômico, que compra a cumplicidade de políticos, governantes, agentes do governo e mídia) e sobre quem manda no mundo (quase sempre homens sem escrúpulos e sem responsabilidade, na visão incontestável de Albert Einstein em sua carta a Freud), mas isso estaria incompleto sem nos referirmos ao custo dessa apropriação. No espaço modesto de uma coluna de jornal, não há muito a fazer senão ir direto à questão: quem paga a conta?

Como diz uma velha expressão americana, popularizada nos anos 1970 pelo monetarista Milton Friedman, ao usá-la como título de um livro, “não existe almoço grátis”. Alguém sempre paga a conta. Os defensores da liberdade  de mercado irrestrita e do estado mínimo, utilizam o adágio para combater o provimento de serviços subsidiados à população e os programas sociais de distribuição de renda, os quais, por essa ótica, acabam onerando indevidamente os demais segmentos da sociedade, gerando dívida estatal, mais inflação e, no final, crise na economia conforme o modelo monetário.

OK. Mas o que dizer quando os recursos do estado são desviados para salvar bancos e grupos econômicos da falência, perdoar sonegadores de impostos, oferecer condições especiais a grupos monopolistas, conceder salários abusivos e condições de trabalho privilegiados a servidores “nobres” em detrimento da “plebe” trabalhadora ou simplesmente são dilapidados pela corrupção ativa e passiva que permeia todo o sistema político, os partidos e setores poderosos da burocracia no Executivo, Legislativo e Judiciário? 

Quem paga esse banquete permanente e perdulário? Na maioria, quase totalidade dos países – e de um jeito escandaloso e iníquo no Brasil! -, essa é uma conta paga pelo povo, aqui entendido como a grande massa de assalariados ou autônomos desorganizados, os desempregados, os miseráveis e todos sem poder de pressão sobre os que decidem pela sociedade. 

Segundo dados da organização britânica Oxfam, 1% da população mundial (menos de 70 mil pessoas) detém metade da riqueza disponível no planeta. Mais de 7 bilhões de pessoas dividem o resto, aí incluídos 2 bilhões que vivem abaixo da linha de pobreza. No Brasil, apenas 0,9% da população concentra 60% da riqueza nacional. E, no entanto, é essa imensa maioria excluída que é convidada a pagar a conta e a pagar mais cada vez que um resfriado na economia ameaça o ganho da minoria.

No Brasil que acaba de cortar direitos trabalhistas e deve  restringir ainda mais o ganho dos aposentados comuns, o governo acaba de perdoar uma dívida de 25 bilhões em impostos do Banco Itaú, pretende anistiar produtores rurais que sonegaram o pagamento do Funrural, indispensável à aposentadoria do homem do campo, e no parlamento grandes empresas negociam vantagens em licitações.

Certamente tudo será votado e aprovado, pois quem vai pagar a conta não consegue impor sua voz. Juízes, promotores, políticos, auditores, militares... a elite burocrática está salva. Que importa o resto? Que a “plebe” sem voz pague o almoço outra vez.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 16/05/17 ]

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