Postado em 24 May 2017 04 19 Textos Anteriores
Quem pode mudar é quem paga a conta.
O povo paga a conta. O povo pode mudar.
Mas o povo sabe que tem esse poder?
por JOMAR MORAIS
Quem pode mudar? Em princípio, quem paga conta. O povo paga a conta. O povo pode mudar.
Êpa! Devagar com o andor. Se o povo paga a conta – da corrupção e da apropriação do estado por interesses privados -, é ele quem deveria promover a mudança. Mas o povo tem exercido esse poder? Ou tem sido atropelado, manipulado, para que continue como um ator excluído, confinado à plateia da indignação estéril?
Enquanto conversávamos aqui, nas últimas três semanas, sobre quem manda no estado (as megacorporações que compram a cumplicidade dos agentes do estado), quem manda no mundo (quase sempre homens sem escrúpulos e sem responsabilidade) e quem paga a conta (o povo sem voz, desarticulado e sem força para pressionar o establishment), o pavio de uma bomba estava aceso e a bomba, enfim, explodiu com o vazamento das delações do conglomerado J&F, agora envolvendo inclusive o presidente da República em crimes em andamento, não apenas em delitos passados.
Máscaras caíram em público, a Bolsa ruiu, as reformas travaram, o “governo acabou” e, subitamente, aliados dos grupos que tomaram o poder em nome do combate à corrupção – como a grande mídia, que ecoa e endossa os interesses do mercado – mudaram o discurso e passaram a exigir a renúncia de Michel Temer, em uníssono com a oposição e a frágil “voz das ruas”.
Não há dúvida de que, neste momento, estabeleceu-se um ponto de consenso entre os grupos que disputam o poder: é necessário que o presidente saia, que se troquem os homens que governam, mas as motivações e as metas das facções não deixam dúvida sobre nó político não desatado e a insolubilidade das questões essenciais em curto e médio prazo.
O governo Temer não fez a lição de casa, na ótica de seus patrocinadores. Patina na implantação das reformas que, aparentemente, salvariam os lucros do mercado, ao custo de cortes de direitos trabalhistas e previdenciários e redução de impostos. Parece ter liberado geral a corrupção, com o aumento assustador do valor das propinas, o que não é bom nem mesmo para os corruptores, que podem pagar meras mesadas de 50 mil a 200 mil reais para comprar parlamentares e até promotor ou juiz.
Como a degeneração tornou-se explícita, a credibilidade evaporou, inviabilizando todos os projetos.
A oposição quer diretas já, o que é razoável em se tratando de uma democracia em vias de naufrágio. A elite econômica (bancos, a turma da Fiesp, a grande mídia) talvez prefira uma solução casuística e indireta (e mais barata!), com um salvador importado do Judiciário. As viúvas da ditadura militar querem Bolsonaro ou ditadura e ponto. E o povo? Será que vai dizer o que quer?
Diretas já, penso, é a saída mais justa e eficaz na conjuntura que temos, mas isso é só o primeiro passo de uma longa caminhada. A mudança ideal exige a continuidade das investigações, o fim da impunidade, a renovação dos quadros políticos e administrativos e a autocrítica da sociedade, com o questionamento de nossos valores, da ética e da prática cotidiana dos cidadãos. O desafio não é fácil, mas sem enfrentá-lo não iremos longe.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 23/05/2017 ]
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