Postado em 01 Aug 2017 02 56 Textos Anteriores
O que está por trás da atitude de pais de
crianças especiais que tentam ocultar
o problema? Isso só piora a situação.
por JOMAR MORAIS
Dias atrás, fui chamado a opinar sobre uma questão delicada: o que fazer quando se tem em casa uma criança hiperativa e com uma enorme dificuldade de aprendizagem e convivência com outros meninos? O capetinha não para, é do tipo que faz os pais passarem vexame nas casas dos amigos, onde o garoto se diverte quebrando vasos e riscando móveis. Se contrariado, segundo os pais, pode até entrar em crise convulsiva.
Não é fácil para um mero jornalista posicionar-se a respeito de um tema tão complexo. Para mim, é mais confortável escrever uma crônica, sem a pretensão de resolver o problema.
Começo pelo óbvio. Se o processo educativo em casa não pode ser equacionado mediante diálogo amoroso, disciplina ética e eventuais intervenções do antigo “psicólogo” de couro (que não me leiam nem me processem os psicólogos de verdade), então está na hora de aprofundar o questionamento. O que os pais têm ensinado aos filhos sem palavras (e é assim que sempre ensinamos e aprendemos o essencial!), como aplicam às suas próprias vidas a cortesia e a disciplina que propõem ou esperam dos meninos?
Se essa reflexão não basta, não há dúvida de que é preciso buscar o auxílio de especialistas na psicologia e, se necessário, na medicina para o diagnóstico seguro e o concurso de uma terapia profissional.
Mas a verdade é que isso não esgota a solução. Há uma dimensão do problema que está além de sua abordagem técnica.
No caso que me foi apresentado, a dificuldade dos pais em aceitar e lidar com a deficiência do filho é uma das maiores causas do sofrimento deles e, sobretudo, da criança.
Como tantos outros, os pais em foco optaram por esconder a realidade de seus familiares e amigos, da própria criança e até deles mesmos, simulando uma situação de normalidade que a todo momento é contrariada pelos fatos. Como resultado, o problema tem se agravado com a falta de controle da situação e o isolamento do menino, cada vez mais oscilante entre a depressão e a explosão raivosa.
O que está por trás da atitude defensiva desses pais? A ideia absurda de que expor a verdade seria uma vergonha para a família e o medo de que a criança venha a ser discriminada devido à sua deficiência.
Errado, errado e mais uma vez errado, segundo especialistas em dificuldades de aprendizagem e relacionamento em crianças especiais.
Encarar a situação do filho com naturalidade, explicar-lhe o que acontece e destacar para ele o seu bom desempenho em outras habilidades vai retirar dos ombros da criança o peso de levar um “segredo” horrível e doloroso e encorajá-la a abraçar os recursos técnicos para contornar sua dificuldade, sem prejuízo à sua autoestima. E compartilhar o problema com familiares e amigos ajudará na compreensão e aceitação da criança podendo, eventualmente, atrair a colaboração de outros para aliviar a situação.
Ignorantes e idiotas que venham a expressar preconceito e discriminação podem ser esclarecidos por pais bem informados e conscientes ou simplesmente deixados em sua escuridão.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 25/07/17 ]
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