Postado em 04 Aug 2017 19 39 Textos Anteriores
Tropas nas ruas jamais resolvem
a criminalidade, que se sustenta da
exclusão dos pobres, da ganância
dos ricos e da ignorância de ambos
Imagem do jogo eletrônico Assassin�s Creed
por JOMAR MORAIS
Os dias são de perplexidade. Mergulhados no medo, esse combustível da máquina de iniquidades construída e operada pelo egoísmo e a ganância sob o verniz de instituições impotentes e corrompidas, parece ter restado aos brasileiros o pior roteiro reservado aos atores da vida: aquele em que personagens sem densidade pontuam cenas com lugares comuns entediantes e inúteis. As pessoas reclamam, mas se recusam a agir.
O medo que azeita a economia e mantém o sistema, fazendo-nos trabalhar, acumular e consumir por impulso em busca de um bem-estar sempre adiado para o dia seguinte, nos momentos de crise – aqueles em que o castelo de ilusões desaba e o rei, nu, já não consegue dissimular suas intenções – costuma nos manter acuados, atados às lamentações estéreis que não nos livram da obediência servil.
Para quem se deixou manipular, por ignorância ou por avidez, e assim contribuiu para que chegássemos ao estágio atual de degeneração do estado, apropriação das instituições por interesses privados e bestialização da sociedade, embriagada no culto do individualismo e da fatuidade, a previsão não é animadora. O que está aí deve piorar.
Tropas nas ruas jamais poderão eliminar a violência e a criminalidade que se sustentam da exclusão social dos pobres, da indiferença e ganância dos ricos e da ignorância de ambos, imersos numa cultura que menospreza os valores éticos e não considera a dignidade da vida e do homem.
A prática política jamais será limpa e vocacionada para o bem comum enquanto não a encararmos como uma missão acima de nossas vaidades, ambições e interesses familiares ou corporativos.
As mudanças institucionais democráticas e justas jamais acontecerão sem que os indivíduos sejam justos em seu proceder diário e se disponham a exercer seus direitos na urna e nas ruas.
Para quem não perdeu a fé em Deus, no homem e na história, ao contrário, esse pode ser um momento significativo e necessário, ainda que sofrido. Quando não temos, ou desprezamos, a capacidade de refletir sobre a vida e pensar nossas ideias, atitudes e ações, é a dor que nos leva à saída do labirinto. “É necessário que os escândalos venham”, dizia Jesus.
A boa notícia é que nada é para sempre. Tudo passa. O mal contém em si mesmo o seu remédio, amargo e doloroso, sempre aplicado quando a inteligência e o sentimento não dispõem de alternativas.
Isso não é crença. É constatação. As páginas da história comprovam que os grandes saltos da humanidade foram gestados no útero de crises monumentais em que o declínio do velho e inservível deu lugar à ousadia das experiências inovadoras.
Por enquanto, no Brasil – e no mundo - o que se está tentando é salvar estruturas e interesses velhos e corrompidos, ampliando muros e intensificando a iniquidade social. Essa fórmula é anacrônica e não funcionará.
Queira Deus que a solução inevitável não nos chegue navegando em rios de sangue na noite escura da violência do estado, da elite insensível e das legiões do crime organizado.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 01/08/17 ]
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