Postado em 10 Aug 2017 02 28 Textos Anteriores
Provavelmente, hoje os físicos têm mais
a contribuir sobre o tema reencarnação
do que religiosos atados a suas certezas
por JOMAR MORAIS
Dois anos antes de morrer, de câncer, um grande amigo, jornalista, desabafou, em um texto brilhante, que, para além da morte, nada esperava. Não pensava em continuar vivo e consciente e, sobretudo, em retornar ao mundo, reencarnar. Queria apenas desaparecer.
Meu amigo ainda não sabia do câncer que já lhe corroía as entranhas, mas estava amargurado com os reveses da vida e a injustiça dos homens, contra a qual lutou bravamente em seus últimos anos de vida. Tornara-se ateu e materialista contumaz.
Não sei se o seu ateísmo e materialismo tinham base filosófica ou emocional. Não é fácil conservar a imagem primitiva e convencional de um Deus pessoal, protetor e exigente quando a vida confronta e derrota nossos desejos. Quanto à reencarnação, acho que ele lidava com o conceito mais popular e ocidental daquilo que o oriente, em passado remoto, chamava de transmigração.
Ao contrário de meu amigo, acredito em reencarnação, mas meu conceito sobre esse evento há muito está efervescente e não para de desconstruir-me as certezas. Nossas crenças interagem o tempo todo com nossas experiências e conhecimento acumulado. Também a fé se move no fluxo incessante da criação. Não reconhecer essa evidência é, talvez, a maior fragilidade da maioria das religiões e dos religiosos que gostariam de encontrar na prática espiritual a segurança de um universo estático e acabado.
Anos atrás, cheguei a vivenciar supostas recordações de vida passada que até hoje me impactam a emoção e a percepção sem que isso tenha desvendado o enigma. O que encarna? O que reencarna? Quando relatei uma de minhas experiências na Internet (http://www.planetajota.jor.br/fuinegao.php), cheguei a ser contatado pela produção da TV Globo, que então preparava a novela “Além do Tempo”, e por uma produtora de filmes que viam a possibilidade de agregar meu relato a seus projetos literários, mas fiz questão de baixar a bola e explicar que, no texto, eu deixara aberta a possibilidade de o evento narrado ter diferentes explicações, conforme a linha conceitual adotada. Um espírita talvez considerasse a reencarnação de uma estrutura completa, um eu e, quem sabe, um ego; um budista, que não trabalha com a ideia de um “eu” inerente, poderia ver ali apenas a manifestação de agregados energéticos, memórias da consciência única; já um psicólogo junguiano faria considerações sobre o inconsciente coletivo.
Provavelmente, na atualidade, os físicos teóricos têm mais a contribuir para o entendimento dessa questão que os religiosos superficiais, que costumam estacionar sobre “certezas” indiscutíveis.
Einstein, informa o físico Amit Goswami, em seu livro “A Física da Alma”, afirmava que “passado, presente e futuro existem, em algum nível, simultaneamente”. Ele consolou a viúva de seu amigo Michelangelo Besso dizendo que “para nós, físicos convictos, a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão, por mais persistente que seja”.
Goswami acha que Einstein intuiu que “as pessoas vivem em seus respectivos quadros temporais” e, a partir daí, desenvolve hipóteses no livro citado. As pessoas viveriam em quadros temporais correlacionados. O significado estaria na mente do experimentador, “a consciência individual específica, que se sintoniza com alguma coisa do parque temático não local, no melodrama específico dessa pessoa”.
As elaborações de Goswami não cabem, completas e íntegras, em um texto genérico e conciso de um mero jornalista. Mas, sem dúvida, são uma provocação a que pensemos de um jeito novo nas questões emaranhadas do ser, do tempo e da influência recíproca entre passado, futuro e presente.
[ Publicado na edição do Novonoticias.com de 08/08/17 ]
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