Postado em 31 Aug 2017 00 52 Textos Anteriores
O Memorial Poético da Loucura, de Francisco
de Assis Câmara, é um tributo em versos, belos
e criativos, a gênios como Albert Einstein (foto)
por JOMAR MORAIS
Em minhas mãos, o livro primoroso que será lançado nesta quinta-feira, 31/08, no Instituto Histórico e Geográfico do RN: “Memorial Poético da Loucura”, de autoria do poeta e escritor Francisco de Assis Câmara.
Não se trata de um produto editorial qualquer. Não bastasse o título, que evoca um das obras mais influentes do Renascimento - “O Elogio da Loucura”, do teólogo e humanista holandês Erasmo de Roterdã -, o livro é uma peça de arte tecida com sobriedade e elegância, cujo apuro começa no desenho da capa, feita apenas de textos e arabescos em relevo, e se completa na forma como o autor entrega aos leitores o resultado de anos de reflexões sobre a aventura humana e seus protagonistas: através de um poema de 580 estrofes em que beleza e refinamento revestem de leveza e alegria a densidade do pensamento e a erudição do autor.
Ao impactar a Europa renascentista com o seu “Elogio”, em 1511, Erasmo, que mirou as superstições de seu tempo e as práticas corruptas da Igreja Católica, fez de seu exercício reflexivo uma homenagem ao filósofo inglês Thomas Morus, autor de “Utopia”, uma ficção sobre a sociedade perfeita, cujo título viria a tornar-se sinônimo de lugar ou situação ideal em vários idiomas. Cinco séculos depois, o “Memorial” de Assis Câmara também se apresenta como uma homenagem, agora a todos os que ousaram “transpor limites, sonhar novos paradigmas e romper a barreira do impossível”, alavancando a nossa espécie. Estruturado como um “museu” impresso, o livro nos convida a visitar seus 13 “pavilhões” pelos quais se esparramam os versos do poeta. Neles são rememoradas e reverenciadas a criatividade e a ousadia de “loucos” que arremessaram às alturas o pensamento filosófico, político e artístico, assim como as de descobridores e pioneiros, inovadores da pedagogia e do direito e arautos da ciência e da medicina que plantaram os alicerces do mundo contemporâneo.
“A verdadeira sabedoria é a loucura”, disse Erasmo de Roterdã. “O que faz a vida agradável não é a frieza da razão e sim o calor das paixões, pois a loucura dá sabor à vida”. Inspirando-se no humanista holandês, Assis Câmara reafirma em sua “ode” à vocação visionária o reconhecimento a todos os que nos salvaram da estagnação ao atenderem à rebeldia do impulso e da paixão, de onde brotam a criatividade e a alegria que a sucede.
A leitura prazerosa do volume de 300 páginas, aí incluídos o glossário sobre as figuras homenageadas e a bibliografia substanciosa, torna dispensável qualquer adendo, mas o autor insiste em diferenciar. A loucura dos que “se lançaram à recriação do mundo” é sã e não se confunde com a “loucura vã”, patológica e improdutiva. Seu livro homenageia a primeira como contraponto indispensável para nos livrar da “normose”, essa patologia psíquica e social que nos acomoda à mesmice das convenções.
À porta de seu “museu”, Assis Câmara,na primeira estrofe, não deixa margem a dúvidas:
“Mereceu um elogio a loucura? | Bem merece, a loucura, um elogio | Da mente sã e no melhor feitio | Imune a qualquer tipo de censura”.
A partir daí um desfile de personagens, de Hamurabi e aos gênios nerds da Internet, encanta-nos em versos belos e precisos.
Predicados literários à parte, “Memorial Poético da Loucura” é também uma prova da liberdade e da perspicácia que a maturidade costuma adicionar aos que não renunciam a vida. Aos 74 anos, um ex-secretário de Administração e ex-procurador do Estado rende-se à sensibilidade do poeta que o habita e nos brinda com uma obra saborosa, densa e...útil.
[ Publicado na edição do Novonoticias de 29/08/17 ]
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