Postado em 25 Feb 2015 20 34 Textos Anteriores
JM no Monumento aos Mártires
do Tibete, em Dharamsala: um
clamor que o mundo não ouve
por JOMAR MORAIS
A questão do Tibete, o país mais alto do mundo, situado no norte da cordilheira do Himalaia, invadido e anexado à China pelo governo de Mao Tsé-tung, parece mais complexa do que sugerem argumentos e emoções em torno dessa pendenga internacional.
O Tibete tem 2 100 anos de história e, em sua origem, foi uma monarquia belicista até que, no século 7, sob a influência do imperador erudito Songtsen Gampo e do Budismo, tornou-se o povo pacífico que conhecemos. Vem dessa época a ambição chinesa por seu pequeno território, invadido e dominado pela primeira vez no século 18. A independência, reconquistada em 1913, jamais seria aceita pelos chineses que, excitados pela revolução comunista de Mao, retomariam o controle da região em 1950, sem que a ONU se opusesse a esse ato.
A questão tibetana só sensibilizaria o ocidente depois da fuga do 14º Dalai Lama para a Índia, já no contexto global da “guerra fria” e da polarização entre capitalismo e comunismo. Mas ela é maior que interesses políticos e econômicos, embora relegada a terceiro plano no atual tabuleiro diplomático, subjugado à economia. Trata-se de uma questão humana e ética que merece não ser esquecida.
Há 15 dias, em Dharamsala, na Índia - reduto de refugiados e sede do governo tibetano no exílio -, tive a minha indiferença ante o Tibete provocada pelas imagens fortes do Monumento dos Mártires do Tibete e do Museu do Tibete, ambos situados junto à casa do Dalai Lama Tenzin Gyatso. Claro, é uma visão parcial, mas que nos desperta para a real dimensão do problema.
Como não se indignar diante da imagem do menino Gedhun Choekyi Nyima, sequestrado em 1995 junto com a sua família, e, desde então, prisioneiro político do governo chinês pelo simples fato de ter sido proclamado, pelo Dalai Lama, como a reencarnação do Panchen Lama, o segundo na hierarquia religiosa tibetana? Na época, Nyima tinha apenas 6 anos de idade. O governo chinês determinou que outro menino, Gyaincain Norbu, filho de um membro do Partido Comunista, é a verdadeira reencarnação do Panchen Lama.
Atentados aos direitos humanos, como esse, compõem com a lavagem cultural que vem sendo feita no Tibete uma espécie de genocídio moderno no qual a alma de uma nação, a sua identidade, é dizimada. A chamada Região Autônoma do Tibete viu sua economia tornar-se robusta na esteira da explosão econômica da China e, certamente, sua população desfruta hoje de uma qualidade de vida que seus antepassados jamais tiveram. Mas...
A história nos dá exemplos de nações e etnias que resistiram, durante séculos e até milênios, ao furor de dominadores, conseguindo preservar sua identidade cultural mesmo sob diáspora. Os judeus constituem, talvez, o caso mais emblemático desse tipo resiliência. Só o tempo, porém, nos dirá se os tibetanos sobreviverão ao furacão chinês num mundo indiferente ao seu clamor.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 24/02/15 ]
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