O que será que será?
Postado em 07 Apr 2015 14 29 Textos Anteriores












O mau jornalismo migrou para as redes  
sociais, onde é praticado por amadores  
Será que isso vai ser profissionalizado?  


por JOMAR MORAIS


Há pelo menos duas décadas, quando a Web, a teia universal, passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, sabe-se que os jornais, do modo como são produzidos desde o século 16, com papel e tinta, não resistirão à Internet. Em 1995 já havia projeções de especialistas americanos nessa direção. Poucos acreditaram, a começar pelos empresários da comunicação e a maioria esmagadora dos jornalistas. Isso explica, em parte, a morte por inanição (abandono de leitores) de milhares de jornais em todo o mundo nos últimos anos. 

Achar que tais projeções não passavam de delírio de pessoas entusiasmadas com uma brincadeira de nerds  foi um erro colossal. As empresas editoras atrasaram a migração de seus negócios para a Web e os colapsos se sucederam na mesma velocidade em que a publicidade fugia para onde foi a audiência.

Quem, como eu, acreditou no primeiro momento que jornais, revistas e livros seriam engolidos pela net sabia que isso não seria o fim do jornalismo, mas apenas o de uma mídia, o meio pelo qual o conteúdo essencial  – a notícia – chega ao leitor. Sob mudanças em ritmo de furacão, no entanto, dói agora dizer que mesmo a crença de que o jornalismo se reinventaria para melhor dentro da Web está ameaçada pelos fatos.

Sites e portais, que pareciam ser o futuro de jornais e revistas, com o seu potencial de atrelar movimento e instanteneidade aos textos noticiosos, perderam o primeiro plano para as redes sociais, o grande ponto de encontro de pessoas na Internet. E isso é como se a lancha do salva-vidas começasse a soçobrar.

Jornais, entre eles monstros sagrados, como o New York Times, já estudam usar a plataforma das redes, gerida por megaprovedores, o que significaria abrir mão de princípios e procedimentos basilares do negócio jornalístico: o controle da circulação e da publicidade e, provavelmente, o do processo de produção de notícias, que se tornaria mais vulnerável ante o perfil ciclotímico das redes sociais.

O ambiente volátil das redes, onde as pessoas não se detém em leituras ou em qualquer relação profunda com o objeto -  inclusive a própria rede, trocada ao aceno da primeira novidade – pode destruir o que resta da fidelidade entre o leitor e o jornal e os efeitos que isso sempre teve sobre o sentido da produção de notícias.

Some-se a isso o fato de as redes sociais estarem concentradas e submetidas a meia dúzia de provedores mundiais, como o gigantesco Facebook, e teremos outro pesadelo: a destruição da alma do jornalismo na indignidade de um monopólio global.

Em recente entrevista ao jornal espanhol El País, o escritor e filósofo Umberto Eco foi brilhante ao ressaltar o óbvio que poucos enxergam: o mau jornalismo, aquele do denuncismo sem prova, das ameaças e das chantagens  migrou para as redes sociais, onde é praticado por amadores. 

O perigo que vejo é que, em algum momento, sob a pressão da “psicologia” das redes e dos interesses comerciais, essa prática passe a ser exercida por profissionais.

[Publicado na edição do Novo Jornal de 07/04/15 ]

Para abrir a janela de comentarios, clique sobre o titulo do texto ou sobre o link de um comentario >>:
Marcos Azambuja
08 Apr 2015 03 22
No alvo, Jomar Morais!
Deixe um comentario
Seu nome
Comentarios
Digite o codigo colorido