Postado em 22 Apr 2015 18 07 Textos Anteriores
Jesus, Gandhi e Luther King:
viver o amor e a compaixão exige
bem mais que o heroísmo épico
por JOMAR MORAIS
O que faz um homem atirar-se à enxurrada caudalosa e indomável, para salvar alguém de um carro tragado pela correnteza, enquanto muitos apenas gritam ou filmam a cena para postar nas redes sociais?
O que se passa na cabeça de uma mulher que reaje, de algum modo, diante de alguém exposto a escárnio ou tortura enquanto outras pessoas fingem que nada veem e seguem em frente?
Certamente, nenhum pensamento articulado e sim um impulso, um forte sentimento compassivo – essa capacidade de sentir o sofrimento ou a alegria do próximo em uma inexplicável experiência de interligação de almas.
Para ser herói, basta ser humano, concluo.
Mas esta inferência logo me remete a uma dúvida, se observo o dia a dia: um mundo em que, aparentemente, os heróis do cotidiano se tornaram escassos, ou já não conseguem ser notados pela maioria, seria um sinal de que nos tornamos menos humanos sob os estímulos constantes ao individualismo, à avareza e à fatuidade?
Heróis de carne e osso dificilmente correspondem ao arquétipo do Herói, uma figura semidivina na qual a fragilidade da condição humana é ofuscada pela capacidade incomum para enfrentar e resolver problemas movido por valores éticos como coragem, justiça, paciência e disposição para o sacrifício. Em verdade, o heroísmo épico, muitas vezes, é tão só o último esforço de sobrevivência em uma luta por interesses pontuais e corriqueiros que pouco tem a ver com ideais igualitários.
É emblemático o conselho que Thomas Jefferson, então embaixador dos Estados Unidos na França, deu a José Joaquim Maia e Barbalho, estudante da Universidade de Coimbra que em 1786 tentou obter seu apoio para o movimento inconfidente de Vila Rica, o primeiro em Minas Gerais a associar um projeto nacional e republicano ao sentimento de revolta diante da extorsão fiscal praticada pela Coroa portuguesa: "Isso não seria desinteressante para os Estados Unidos, e a perspectiva de lucros poderia, talvez, atrair um certo número de pessoas para a sua causa, e motivos mais elevados atrairiam outras", respondeu o embaixador.
Mais emblemático ainda é o fato de que, dos presos enviados ao Rio, em 1789, apenas o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, enfrentou os torturadores, confirmando sua atuação e fazendo a defesa de seus ideais. Foi o único a pagar com a vida. Certamente foi dos poucos a serem atraídos para a causa pelos “motivos mais elevados” a que se referira Jefferson.
Heróis... Ainda os temos?
Cazuza, refletindo o desencanto de uma geração, chegou a dizer, na canção, que os seus morreram de overdose.
Talvez possamos, num mundo de guerras e heróis que matam, repetir com Tina Turner os versos da trilha sonora do filme “Mad Max Beyond Thunderdome” (Além da Cúpula do Trovão):
“As crianças dizem: Não precisamos de outro herói. Amor e compaixão, seu dia está chegando”.
Amor e compaixão, no entanto, não chegam sem heróis, comprova a história.
Jesus, Francisco, Gandhi, Luther King... ainda precisamos de vocês.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 21/04/15 ]
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