A ilusão do perfeccionismo
Postado em 29 May 2015 21 56 Textos Anteriores











O perfeccionista está mais preocupado em  
evitar erros do que alcançar a harmonia e tem   
dificuldade em lidar com a condição humana  


por JOMAR MORAIS


A vida não é apenas uma obra aberta – isto é, algo que comporta múltiplas interpretações, dependendo da perspectiva do observador. É também uma obra incompleta, por encontrar-se em permanente mutação. Fazer e refazer, criar e criticar são características humanas certamente originárias do DNA cósmico que impulsiona a vida a buscar a excelência.

A perfeição é uma meta ideal que nos mantém ativos e perserverantes, além de inspirar elaborações filosófica e a rotina de nossas relações, aí incluídos os negócios e a produção de conhecimento.

No Evangelho cristão, a perfeição aparece como sinônimo de vivência do amor. “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial”, disse Jesus, conforme o registro do evangelista Mateus. Mas essa exortação coroa um ensinamento sobre o amor incondicional, expandido até os inimigos, no qual o Cristo realça a excelência equânime do amor divino,  “que faz se levante o sol para os bons e os maus e chova sobre os justos e os injustos”. 

Pessoas felizes e gratas à vida costumam realizar suas tarefas com alegria e esmero, contribuindo em tudo para a máxima harmonia e beleza, mediante esforço e criatividade. Buscam e se aproximam da meta ideal de perfeição.

Tal dedicação, rica em resultados, difere profundamente do perfeccionismo, embora, muitas vezes, as pessoas tomem os dois termos como sinônimos.

Perfeccionismo é um transtorno neurótico que tem a ver com conflitos e culpas não resolvidos e torna-se fonte de sofrimento para as suas vítimas e para as pessoas de seu círculo de convivência. Pode concorrer para o alcance da excelência em uma obra, mas, na maioria das vezes, prejudica a produtividade.

Na verdade, o perfeccionista está mais preocupado em evitar erros do que construir a harmonia, a eficiência e a beleza. Teme a avaliação das pessoas e busca eliminar a sensação de fragilidade ou de fracasso com a apresentação de obras “perfeitas”. O perfeccionista tem grande dificuldade de lidar com os limites da condição humana em si mesmo e no próximo.

No dia a dia de um perfeccionista há pouco espaço para o  relaxe, o contentamento e, sobretudo, para a compaixão. Seu ego inflado – e, portanto, fragilizado pela insegurança  – está sempre carente de aplauso e elogio, em meio à tortura da ansiedade e da angústia que o levam a atropelar os ciclos da vida. Perdido no impulso de competição permanente, torna-se incapaz de compreender e participar da dor e da alegria do próximo.

Perfeccionistas, além de ansiosos, podem descer ao fundo do poço da depressão ou da revolta quando suas ilusões relativas a prestígio e poder, a partir de seu esforço pela obra perfeita, não se confirmam ou se dissolvem. Por não haver em sua alma a abnegação inerente à vivência do amor, que faz da busca pela perfeição o compartilhamento de um esforço coletivo, sempre restará ali um ego ferido e fracassado a cada encontro com as limitações humanas e com a infinita paciência da vida.

[ Publicado na edição do Novo Jornal de 26/05/15 ]

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