Postado em 05 Jun 2015 01 20 Textos Anteriores
Visto de perto, cada um de nós revela
um traço de beleza ou de dor capaz de encantar
o outro, despertando amor e compaixão
por JOMAR MORAIS
Numa das conversas que manteve com o Dalai Lama Tenzin Gyatzo em Dharamsala, Índia, durante o processo de elaboração do livro “A Arte da Felicidade”, o psiquiatra americano Howard C. Cutler perguntou ao líder budista o que é necessário fazer para aprimorarmos o relacionamento com alguém, adornando-o com a compaixão. O Dalai respondeu que é importante “conhecer e compreender os antecedentes da pessoa”.
Cutler não ficou satisfeito. Achou a resposta elementar e superficial.
Naquela noite, convidado a participar de um jantar na casa de amigos tibetanos, o psiquiatra foi apresentado a várias pessoas, entre as quais um escritor alemão, autor de 12 livros, que logo lhe chamou a atenção pela produção literária. Cutler abordou-o com entusiasmo, mas a frieza do interlocutor o surpreendeu. O alemão respondeu suas perguntas com respostas curtas e mecânicas. Sua atitude era brusca e distante. Sem ânimo para insistir com quem agora lhe parecia antipático e pretensioso, o psiquiatra voltou-se para outros convidados.
No dia seguinte, ao encontrar um amigo num café, narrou-lhe os acontecimentos da noite anterior e, para sua surpresa, o amigo, que conhecia o escritor alemão, saiu em sua defesa. “Eu o conheço há muitos anos”, disse-lhe o amigo. “Ele parece arrogante, um pouco fechado no início, mas é porque é um pouco tímido”.
Cutler não se deu por convencido e o amigo continuou: “O Rolf é uma pessoa maravilhosa, quando o conhecemos melhor. Apesar de seu sucesso com o escritor, tem um histórico de muito sofrimento. Sua família suportou aflições tremendas nas mãos dos nazistas durante a Segunda Guerra. Ele tem dois filhos que nasceram com grave deficiência física e mental, aos quais é muito dedicado. E, em vez de se amargurar por causa disso e passar a vida no papel de mártir, Rolf dedicou muitos anos de sua vida ao trabalho voluntário com deficientes. É uma pessoa especial”.
Dias depois, Cutler e Rolf encontraram-se novamente no aeroporto de Dharamsala e, como o vôo que aguardavam fora cancelado, decidiram seguir para Nova Délhi de carro. Durante as 10 horas da viagem, por insistência do psiquiatra, entabularam uma longa conversa e o alemão se revelou “um ser humano sensível e autêntico, além de um intrépido companheiro de viagem”, segundo Cutler.
Finalmente, as palavras do amigo sobre Rolf ganharam sentido e o psiquiatra pôde perceber que a receita de “compreender os antecedentes do outro”, dada pelo Dalai Lama, era simples, mas não simplista.
Costumo dizer que, vista de perto, toda pessoa tem seu ponto de beleza. Quando conhecemos e entendemos a dor do próximo, nossos preconceitos desabam, o ego exigente se acalma e o caminho para um relacionamento compassivo fica desobstruído.
Essa é também uma maneira de resgatarmos nossa própria autoestima, reconhecendo-nos como filho de Deus e fonte de luz: alguém, em algum lugar e em algum momento, nos viu de perto e nos amou.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 02/06/15 ]
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