Postado em 16 Jun 2015 02 15 Textos Anteriores
Gentileza e respeito se consolidarão com o
crescimento espiritual do homem. Até lá,
precisamos da lei para conter mentes primitivas
por JOMAR MORAIS
Quando aceitei, anos atrás, o convite para praticar meditação com presidiários, eu contava com a companhia de uma amiga que se aliou a mim com visÃvel entusiasmo. Em sua mente, muitos planos. Em seu coração, afeto e desejo de ajudar o próximo. Sua colaboração, porém, não foi além do primeiro mês.
Na estreia, seu arrebatamento recebeu o impacto das dificuldades inerentes ao conturbado ambiente carcerário brasileiro e sua compaixão logo se transformou em Ãmpeto reformista. Queria mudar de imediato normas informais da vida no presÃdio, arrumar a sala e enquadrar os alunos numa postura civilizada. Alertei-a que a ansiedade poderia atropelar o trabalho de formiguinha que estávamos iniciando.
Como ela continuou inquieta, realcei que ali, na prisão, em primeiro lugar éramos visitantes e eles, os presos, os nossos anfitriões. Estavam nos recebendo em sua casa e, assim, não seria elegante e muito menos fraternal que chegássemos ditando regras. Afinal, como reagirÃamos em nossa casa ao estranho que tentasse alterar hábitos e normas de nossa famÃlia?
O êxito de nossa missão dependeria de uma paciente aproximação e de um diálogo horizontal em que reconhecerÃamos o valor de nossos interlocutores e aprenderÃamos com eles. Só mais à frente terÃamos a intimidade e a autoridade assentada no amor para dar pitacos e sugerirmos melhorias, se necessário fossem. E foi, de fato, o que aconteceu, embora, lamentavelmente, sem a participação de minha amiga que, sentindo-se impotente para implantar logo seus planos, desistiu do trabalho.
Lembrei desse fato recentemente ao deparar-me com dois tipos de atitude na qual a volúpia de realizar desejos pessoais e a pulsão autoritária de querer enquadrar o outro em uma visão particular de mundo acabaram por gerar transtornos pessoal e coletivo.
O primeiro refere-se a pessoas que, movidas por incontida ansiedade e desejo de afirmarem suas vontades, atropelam amizades e desrespeitam os limites da privacidade e da liberdade do outro de gerir o espaço privado em que realiza sua missão. O segundo, mais grave, relaciona-se à intolerância, de motivação polÃtica ou religiosa, que tenta subverter a convivência democrática e o direito à diferença. Trata-se, portanto, de um delito.
É da natureza da democracia a livre expressão do pensamento, o confronto de ideias e a mobilização de grupos para influenciar os rumos da sociedade. A intolerância, o preconceito e a apologia do ódio, no entanto, são agressões à dignidade humana e à ordem constitucional que podem – e devem – ser reprimidas com base na lei.
A solução duradoura para esses tipos de desvios só será possÃvel com o crescimento espiritual do homem, a partir do autoconhecimento e da superação da ignorância que sustenta o egoÃsmo e a brutalidade. Até lá, cabe ao estado e à sociedade organizada usar os meios possÃveis para impedir que o primitivismo de mentes e corações nos conduza à s trevas do passado.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 09/06/15 ]
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Jomar Morais
17 Jun 2015 02 00
Sim, caríssima Lourdes Dantas. Isso é básico. Grande abraço.
Lourdes Dantas
16 Jun 2015 13 22
Boa reflexão, Jomar! Convivemos bem quando identificamos o limite entre o nosso e o espaço do outro.