Postado em 03 Jun 2015 13 25 Cultura Popular
dez poemas de barro
I
respirava montanhas
e respingava morenezas
em tudo que via,
aquele homem de barro.
II
lia alpendres à tardinha,
comunicava ações às aves de rapina
e, quando acordava, ninava o café
na pequena cozinha de tirna e lembranças.
III
o milharal
quando a enxada chambocava a terra,
mané de barro coloria as espigas
sementeadas ainda nos grãos de milho...
e descansava como um balaio de despensa,
cheio de aguardos e cores novas.
IV
quando estava sozinha à noite,
maria punha os meninos na cama
e costurava a noite,
como se fosse um sapato de bebê.
V
a chuva penteava a tarde
e dizia coisas nos ouvidos das açucenas.
elas se enamoravam da inocência líquida da água
e diziam-se em paz com os selos da chuva
que caía e ninava a noite.
VI
vários homens a caminho da olaria
bicicletavam a estrada
toda cheia de pedrinhas,
miudinhas como dedo mindinho
de menino recém-nascido.
VII
na cacimba profunda
pairava água doce.
na casinha profunda
flutuavam bebês,
à espera do resgate da água
(da cacimba profunda).
VIII
nas paredes de barro
zé do né se encostava
e emprestava gentilezas,
dentro da tarde cinzenta.
ele sabia,
o café não tardava
e as casas de marimbondos
se preparavam rápidas
para suas histórias de trancoso.
IX
manhãzinha
toda vez que a lenha estalava no fogo
o cheiro do café gritava,
acordando todo mundo.
X
mulheres lavavam roupa
no olho d’água,
cantando a brancura que renascia.
Estes e outros poemas estão contidos no livro "com a força das folhas que estiverem vivas", lançado em Abril de 2015 através da Fundação Vingt un Rosado. São poemas premiados nos Concurso Luís Carlos Guimarães (2007), Zila Mamede (2008) e Rota Batida IV (2014). A quem interessar conhecer a obra completa, ela está disponível para venda no site da editora sapiens, bem como na Livraria Nobel da Salgado Filho, em Natal, e no Casarão de Poesia, em Currais Novos/RN.
Namastê!
Wescley J. Gama
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