LÁ VAI ANINHA
Postado em01 May 2016 13 54 POESIAS








LÁ VAI ANINHA

Dentre o que a "normalidade" chama de esquisitice, tenho a de não gostar de viajar. O que às vezes me dá é vontade de respirar a atmosfera de algum lugar. Não como turista, mas como parte em busca da integração com o humano, o arquitetônico, o paisagístico...

Por um bom tempo estive me perguntando aonde gostaria de ir e a resposta era sempre a mesma: conhecer Goiás Velho, a cidade de Cora Coralina.

Quintana dizia que, se fosse padre, citaria os poetas. Se eu fosse padre, além de citar os poetas, escolheria Cora como a madroeira da minha paróquia. Desculpas pelo neologismo, mas foi uma maneira de ratificar a sua condição de mulher.

O encantamento por esta figura singular não é meramente literário. é filosófico, humano, religioso, cultural... Sua vida e, sobretudo, a sua obra estão permeadas pela sabedoria oriunda dos múltiplos aprendizados, aos quais demonstrou está aberta durante a sua longa jornada de pedras, espinhos e flores.

Eis que, há uns três anos, tive a oportunidade de fazer um treinamento em Goiânia e, na semana seguinte, entrar de férias. Foi tempo suficiente para vasculhar, a pé, todas as ruas e becos de Goiás Velho, imortalizados nos versos da sua mais ilustre cidadã.

Como se não bastasse passar uma semana mergulhado naquele universo oitocentista, ainda fui privilegiado em dois aspectos. Fiquei hospedado em um Hotel antigo, separado da Casa de Cora pela famosa ponte do Rio Vermelho. Choveu bastante, o rio teve uma grande cheia e, observei as águas barrentas das quais lhe veio o nome.

Numa daquelas tardes, sentei-me à cabeceira da ponte, defronte ao Museu Casa de Cora e me pus a observar o Rio e a Casa da Ponte enquanto o dia caminhava para a noite, com aquela tranquilidade goiana, semelhante à mineira.

Foi aí que tive a atenção chamada para uma menina solitária, caminhando em direção à igreja, pela rua pedregosa por onde caminhou Aninha *. Foi uma experiência intraduzível.

A fotografia e o texto desta postagem constituem o pouco que foi possível registrar daquele momento.

* Personagem da autora, inspirado na sua infância.

Aldenir Dantas


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