AMOR E DOR NA QUARENTENA
Postado em21 Jun 2020 22 22 FALANDO SÉRIO...

Sobre o programa Ponto de Encontro, conduzido por Jomar Morais e veiculado em 18 de junho deste ano, via Instagram (Disponível na TV Sapiens https://youtu.be/FskvJDTg1Uc ) ratifico o que disseram alguns telespectadores: “foi um debate de alto nível”.

O tema foi a violência contra as mulheres e, dentre os pontos comuns identificados pelos dialogadores, ganhou destaque a Educação, apresentada como principal instrumento no combate ao problema.

Quando se fala em educação, três segmentos são facilmente identificados como principais atores e espaços deste processo: Estado, religião e família.

Ao Estado, caberia ir além do desenvolvimento técnico e científico, formando cidadãos de bem, conscientes, críticos, compassivos e capazes de compreender os fenômenos da vida. Esta é a concepção Educação defendida por grandes mestres, em todos os tempos e, mais recentemente, aprofundada por pensadores como Frenet, Morin e Paulo Freire.

No entanto, sabemos que, não obstante os esforços dos militantes na área, a educação estatal, em geral,  está condicionada a demandas de mercado. Além disso (o que é bem pior), também atua como filtros mantenedores de barreiras sociais e moldadora do indivíduo ao modelo vigente. Em algumas conjunturas, esse caráter distorcido da educação estatal é dissimulado pelo discurso oficial mas, no Brasil, o oficial vem ratificando-o.

No tocante à religião, compreende-se o seu caráter como sendo (pelo menos, devendo ser) essencialmente educativo. Contudo, na nossa sociedade judaico/cristã, é comum vermos religiões ratificando a discriminação à mulher.

Lendo os livros do Antigo Testamento, facilmente identifica-se violências de vários tipos contra a mulher, tratada por aquelas correntes religiosas como um ser inferior. Contudo, Jesus que, ao mesmo tempo, constitui continuidade e ruptura com a tradição hebraica, assume postura diversa: Em nenhum momento falou ou agiu de forma a ferir a dignidade feminina. É comum vê-lo dialogar com as mulheres, merecendo destaque na sua missão a figura de Maria de Magdala. Sua postura perante o apedrejamento da mulher adúltera foi exemplar.  

Mas nada está imune à cultura vigente. Por isso, o cristianismo, influenciado pelo Judaísmo, já nos seus primeiros passos, começou a tratar a mulher como um ser de segunda classe. Seria ela a responsável pela perdição do homem.

Comparando-se os quatro evangelhos com os escritos de Paulo de Tarso, facilmente identifica-se a grande disparidade no trato com a mulher, entre Jesus e aquele que foi o responsável pela expansão do cristianismo para além da Palestina.  Ao longo dos séculos, essa condição de inferioridade se consolidou, com o aval de grandes nomes da Igreja como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho.

Quanto à família, não há dúvidas em relação à sua importância na educação. Valendo lembrar que é ela reflexo do que postulam o Estado e a religião.

Ao refletir sobre a necessidade de mudanças no atual modelo de educação, Edgar Morin aponta a necessidade de educar os professores. Daí, a pergunta: quem vai educar os educadores? Creio que esta questão também se aplica às famílias, formada nos e pelos mencionados sistemas.

Mas, voltemos ao Ponto de Encontro. Ao contrário do que ocorre em algumas discussões estéreis, seus debatedores, além de refletirem sobre a violência contra a mulher apontando causas, aspectos históricos e legais e a educação como solução, apresentaram situações reais do efeito de ações educativas voltadas para o enfrentamento da problemática. E, é na multiplicação de ações desta natureza que reside a esperança de avanço no combate a este tipo de violência.

A promotora de Justiça Érica Canuto falou sobre um Projeto desenvolvido há oito anos pelo Ministério Público: Grupo Reflexivo de Homens. A ação tem um caráter educativo, abrange pessoas envolvidas nesse tipo de crime e, no Rio Grande do Norte, contabiliza zero por cento de reincidência entre os seus participantes. Há, ainda, um trabalho reflexivo on line intitulado “Homem que é homem”.

Nesta mesma linha de pensamento, numa participação especial, a procuradora Marize Costa defendeu estímulos a programas dessa natureza pelo poder público, principalmente, para as classes mais vulneráveis. O Próprio Planeta Jota, ao promover este encontro virtual, constitui importante peça na construção de melhores dias, através da Educação.

Como vimos, o alto nível do Programa além de nos permitir uma visão ampla do quadro, apontou a educação como saída e, sem ficar nas generalidades, destacou a relevância de ações específicas para a questão.

Conhecedores do problema, das causas, das consequências e do remédio, resta-nos o desafio: abrir caminhos para que a Educação avance nessa direção.  Sintamo-nos, portanto, desafiados!


Aldenir Dantas


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