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TURQUIA
O fascínio da terra que abrigou quatro impérios
por JOMAR MORAIS
Memórias de Constantinopla
Constantinopla! Não há como não recordar, ou melhor, não há como não sentir o emblemático nome da antiga capital do Império Romano do Oriente quando se está em Istambul, perambulando por suas ruas repletas de marcos da história do mundo.
Cercada pelas comodidades e pela agitação contemporâneas, a cidade mais cobiçada da antiguidade e da Idade Média revela-se no que restou de seus monumentos colossais e da muralha tripla que a manteve incólume até 29 de maio de 1453, data em que sucumbiu ante o poder de fogo do sultão Maomé II, arrastando consigo os ponteiros das eras.
A queda de Constantinopla, último bastião da cultura imperial romana já na era bizantina, selou o início da Idade Moderna, com um efeito notável sobre os transportes, o comércio, a cultura e a relação de poder entre o ocidente e o oriente.
Com o domínio otomano absoluto sobre o Mediterrâneo, a partir dessa estratégica península abraçada por dois mares, a Europa teve que arriscar novas rotas nos oceanos e o resto do mundo, enfim, pôde tomar conhecimento da América e da zorra tupiniquim. Graças à diáspora de gênios que sucedeu a operação militar e à troca de comando na urbe outrora chamada de “a porta da felicidade”, a ciência e as artes tomaram enorme impulso no fenômeno da Renascença.
Constantinopla ou Bizâncio, rótulo que remonta à lendária fundação da cidade pelo rei grego Bizas, foi a única a ter o privilégio de ser a capital de quatro impérios - o romano, o bizantino, o latino e o otomano -, o que por si explica a força de sua saga e de seu patrimônio.
Para mim, estar em Istambul, nome otomano resgatado pela atual República da Turquia, é um prazer especial. Percorrer suas igrejas e mesquitas, seus palácios e torres, alia a nostalgia das aulas de história e geografia no saudoso Atheneu Norte-Riograndense à perplexidade diante de estruturas colossais como o Palácio Topkapi, residência e centro administrativo dos sultões; a basílica de Santa Sofia (depois mesquita e hoje museu) e seus afrescos medieviais; a cisterna da basílica e suas 300 colunas romanas e cabeças de medusas; a Mesquita Azul e sua abóbada gigantesca; a Torre Gálata vigiando o estreito de Bósforo e o Chifre de Ouro, caprichos da natureza que fazem de Istambul a única cidade do mundo dividida entre dois continentes: a Europa e a Ásia.
O passado da Turquia me encanta com a singularidade da Capadócia, seus mosteiros incrustrados na rocha e suas cidades subterrâneas que abrigaram monges e cristãos perseguidos. E ainda com o simbolismo de Éfeso, onde o fausto romano, ainda visível em suas ruínas, não ofuscou a construção cristã ali realizada por Paulo e João e pela própria mãe de Jesus, Maria, que lá viveu seus últimos dias.
Sentir-se assim, tocando as marcas da história e vislumbrando os ensinos do passado que os livros não contam é fascinante. Mas dizem pouco sobre a nossa interação com uma sociedade tão multifacetada e tão distante. O presente e o futuro prometem colocar brasileiros e turcos no tabuleiro dos interesses do mundo globalizado, aproximando-nos como nunca antes na história.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 04/02/14 ]
Para saber mais sobre a rica herança cultural da Turquia, a saga do povo turco e seus heróis, recomendamos acessar >>> http://pt.wikipedia.org/wiki/Turquia
Uma real história de turco
Não há brasileiro de minha geração que não conheça pelo menos uma história de “turco”. São piadas gostosas sobre a esperteza para o comércio de imigrantes procedentes do Oriente Médio que, a partir dos anos 20, instalaram-se em diferentes regiões do Brasil. Ágeis na venda porta a porta, esses antigos caixeiros-viajantes logo montariam pequenos negócios que, com o passar do tempo, tornaram-se empresas de destaque no comércio de várias cidades.
O “turco” mais famoso só existiu na ficção e se deu bem na Ilhéus retratada por Jorge Amado: o simpático Nacib, querido e respeitado por todos, foi o único a conquistar o coração de Gabriela, a bela caipira de irresistíveis dotes culinários e sensuais.
O detalhe curioso dessas histórias é que, na realidade, nunca houve turco entre seus personagens, mas libaneses, palestinos, jordanianos... gente que emigrou de suas regiões para fugir à opressão do Império Otomano - este, sim, o verdadeiro turco -, que à época dominava boa parte do Oriente Médio. Como os seus passaportes eram emitidos pela autoridade otomana, aqui passaram a ser rotulados indistintamente de “turcos”.
Na verdade, sequer a Turquia existia nessa época. A saga da etnia turca, anterior ao século 23 antes de Cristo, abrange várias regiões da Ásia e dos bálcãs e teve seus dias de glória no Império dos turcomanos, surgido no ocaso da Idade Média e só dissolvido após a primeira guerra mundial. A República da Turquia aparece em 1923 como resultado das lutas pela independência, após a partilha dos territórios do antigo império entre os vencedores da guerra.
Só recentemente o Brasil foi apresentado à Turquia e, como acontece quase sempre lá fora, em princípio graças à arte do futebol e as cores do carnaval. De Istambul à Capadócia, por exemplo, o turista brasileiro é saudado com o nome de Alex Souza, o jogador que brilhou na equipe do Fenerbache até 2012 e virou estátua em frente ao estádio do time.
Em meio a essa simpatia, descobrimos um país vibrante, um estado laico - apesar dos 98% de muçulmanos entre a população turca - que já nasceu com a garantia dos direitos da mulher, com um sistema de educação baseado na pedagogia de John Dewey e a proibição da intolerância religiosa. E mais: uma economia ascendente, com indústrias de ponta e boa infraestrutura de transporte e telecomunicações, que há nove anos se esforça por um lugar permanente na comunidade européia, enquanto se mexe para se destacar entre os países do chamado G20.
Segundo o economista Jim O´Neill, que em 2001 cunhou o termo Brics - Brasil, Rússia, Índia e China - para as potências emergentes na economia mundial, os turcos podem ser a bola da vez. Com a desaceleração dos Brics, a Turquia ascenderia no tabuleiro global, ao lado do México, Indonésia e Nigéria.
[ Publicado na edição do Novo Jornal de 11/02/14 ]
Isto é Istambul
Acima, JM junto à Porta da Felicidade no 2° largo do Palácio Topkapi, residência e local de trabalho dos sultões durante o Império Otomano. À direita, o trono do sultão e abaixo a entrada do famoso Harem.
Estreito de Bósforo, que divide Istambul e separa a Europa da Ásia, visto do alto da Torre Gálata: no lado de lá fica a Ásia. À direita, a Torre Gálata e seus mais de 500 anos de história num fim de tarde de frio e garoa.
JM toca numa das cabeças de medusa do período romano colocadas sob algumas das 300 colunas da Cisterna Yerebatan ou Cisterna da Basílica, verdadeiro palácio subterrâneo e a maior entre as cisternas da cidade.
Interior da grande mesquita de Sultanahmet, mais conhecida como Mesquita Azul, em razão da cor predominante em seus vitrais: acima o salão de orações; ao lado JM acompanha as orações dos fiéis muçulmanos na área restrita.
Mosaico milenar do Museu do Mosaico, acima, revela hábitos dos ancestrais que habitaram a região. Ao lado, o Obelisco Egípcio do antigo Hipódromo. A peça construída em 1500 a. C., em honra do faraó Tutmosis III, foi trazida de Alexandria em 390 de nossa era.
Acima a Praça Taksim, no centro de Istambul, e o monumento a Atartuk, o "pai do estado turco", criado em 1923. A praça foi palco de grande protesto político em 2012. Ao lado, JM chega à Taksim no bonde que percorre o calçadão da rua Istiklal.
Nave da Hagia Sofia, hoje museu, que no no início do ano estava sendo restaurada.
VÍDEOS: cenas de Istambul, Capadócia e Éfeso
A PORTA DA FELICIDADE
O VALE DE JORGE
RECANTO DE MARIA
Éfeso foi um importante porto do Império Romano na Anatólia, região então conhecida como Ásia Menor. A cidade, banhada pelo mar Egeu, chegou a ter mais de 200 mil habitantes no século 4. Seu corredor comercial, suas saunas, seu anfieteatro , seus templos e a sua Biblioteca de Celso impressionam ainda hoje, mesmo sendo apenas ruínas.
Maria, mãe de Jesus, transferiu-se para Éfeso, em companhia do evangelista João, após o episódio da crucificação. O apóstolo Paulo viveu dois anos na cidade e lá escreveu a sua primeira Carta aos Coríntios, que contém o seu poema sobre o amor (cap. 13). Depois, em Roma, escreveu a Carta aos Efésios, na qual exorta os cristãos à unidade.
Como cheguei, onde fiquei
Meu hotel em Istambul Ares Hotel Pousada simples, mas confortável. Bom restaurante e café da manhã digno. Wifi. Reservada via Booking.com
Muito bem localizado, a 100m da Praça Sultanahmet (acima), em torno da qual estão a Mesquita Azul, a Hagia Sofia, o Hipódromo, a Cisterna da Basílica e o Museu do Mosaico. O Grande Bazar fica a 700 metros. Bonde elétrico para principais áreas da cidade.
Cheguei a Istambul no final de janeiro, no pico do inverno. Muito frio (até 4 graus negativos), mas escapei da neve e das tempestades comuns nessa época do ano. Aproveitei oferta da Lufthansa em voo a partir de Lisboa, com escala em Frankfurt e Munique (na volta). Apenas 500 reais, com direito a excelente serviço de bordo, com refeição completa incluindo vinhos. Não é preciso visto para brasileiros visitarem a Turquia. O custo de vida é equivalente ao das capitais brasileiras. Vale a pena comprar o passe para visitar monumentos e museus. Apesar do frio, Istambul ferve e há muita gente nas ruas. Viajei de ônibus para a Capadócia e Éfeso, passando por Pamukale e Kusadasi.
Meu hotel na Capadócia Sunset Cave Hotel Pousada muito simples, em Goreme, porém com o atrativo de apartamentos escavados na rocha. Café da manhã e wifi. Point de mochileiros.
Bem localizada, a apenas dois minutos, a pé, do centro da Vila de Goreme. O gerente é um jovem prestativo com bastante experiência como mochileiro e na recepção a viajantes.