Ano 27                                                                                                                              Editado por Jomar Morais
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OUTRO OLHAR
por Jomar Morais
 
O SEGREDO DO MILAGRE DA APAC
Porque o sistema de prisões da APAC, uma organização privada, tornou-se um
modelo para tirar do caos o sistema penitenciário oficial.
 
Comentários anteriores
Uma frase de seu fundador, o jornalista Mario Ottoboni, espelha a crença básica em que se apoia a prática revolucionária da APAC: “Todo homem é maior que o seu erro”. A APAC - Associação de Proteção e Assistência ao Condenado é uma experiência iniciada nos anos 70 em São José dos Campos (SP) e, devido ao sucesso do projeto, hoje presente em 11 estados brasileiros e até fora do país. Não há como construir um sistema prisional decente e eficaz sem concordar com o princípio que inspira a entidade. Nem sequer é possível um delinquente salvar a si mesmo sem essa crença fundamental. Talvez, por isso, a frase de Ottoboni, escrita na parede com letras gigantes, é a primeira das muitas exortações a motivar reeducandos (prisioneiros) e administradores no Centro de Reintegração Social (prisão) da APAC em Macau, no Rio Grande do Norte.

Reeducandos? Centro de Reintegração? Neste caso não se trata de mero jogo de palavras, um recurso de marketing. Mais de 20 anos de experiência confirmam que, por trás dos rótulos politicamente corretos, opera um paradigma humanista de diferenciais marcantes e bem-sucedidos no trato da ferida social da criminalidade. Aceitar, defender e cuidar da dignidade da vida é o fermento da receita.

A crença básica da APAC é o que falta ao falido sistema penitenciário oficial, espécie de geena dos tempos bíblicos para onde a sociedade tem enviado os seus novos “leprosos”, na ilusão de que a segregação pura e simples é vacina contra o mal. Não é culpa da lei que, aperfeiçoada, aponta princípios e meios que garantem à pena as suas funções ressocializadora do indivíduo e retributiva da sociedade lesada. É fruto do desvio da melhor prática do direito e mesmo dos rudimentos da justiça, sob a ação de uma cadeia corruptora que permeia todos os segmentos do sistema prisional e vai além, muito além, de seus limites.

Para que essa roda de iniquidade continue a girar, é imperioso que se mantenha um ambiente de caos permanente e a total descrença na reeducação do homem. Afinal, para justificar a queima do dinheiro do contribuinte em projetos faraônicos e inúteis nada melhor que estimular o medo diante de ameaças reais ou imaginárias. Além disso, para que a roda da iniquidade rode, é necessário azeitá-la, continuamente, com a inclusão de mais colaboradores, dando à prática perversora a capilaridade necessária ao domínio de toda a estrutura. Nesse contexto, a crença na recuperação do homem e o resgate de sua dignidade seriam obstáculos intransponíveis aos interesses inconfessáveis.

A experiência da APAC é uma alternativa concreta ao sistema oficial mergulhado no pântano. Não é, certamente, a única possibilidade. Mas é a que está aí, referendada por números positivos e uma série de resultados só mensuráveis pelos corações que se beneficiaram direta e indiretamente de seu modelo.

Como explicar que, investindo apenas a quarta parte do que o estado desperdiça com um apenado mantido em condições subhumanas, a instituição obtenha resultados infinitamente melhores, conseguindo devolver à sociedade homens recuperados e não bandidos pós-graduados? O índice de reincidência entre egressos do sistema oficial, em torno dos 90%, é a prova definitiva de sua falência. Na APAC, onde o prisioneiro cumpre uma rigorosa disciplina preservando sua dignidade, esse índice tem ficado abaixo dos 10%.

Como explicar que, sem policiais e agentes, sem usar armas e a brutalidade, os centros de reintegração da APAC não se tenham transformado em caldeirões de revolta, infernos de perversão e centrais de negócios ilícitos?

A questão central não é a da natureza da administração - se estatal ou privada. Um presídio privado pode oferecer conforto e não recuperar o criminoso. E pode ainda custar caro e assegurar a sobrevivência da teia corruptora. O segredo do sucesso da APAC e da reeducação do deliquente está na crença fundamental sobre a essência do homem, seus valores e suas possibilidades, aplicada no dia a dia por administradores e reeducandos, com a colaboração das famílias e da sociedade, numa convivência respeitosa regida pelo amor e pela justiça.
Aldenir Dantas, 29/03/13  - Ficamos encantados com a experiência da APAC que vimos em Assu, com Cleber Costa  e Eden Ernesto. Já sinalizamos com o Juiz local, espírita e defensor dessa ideia, uma conversa sobre o assunto para um dia desses. E hoje mencionei até a possibilidade do amigo Jomar enriquecer a nossa discussão com a sua participação. Afora a importância do tema, elogiar o Planeta Jota e a maestria do profissional Jomar Morais seria redundante. Mesmo assim, parabéns, amigo.

Jomar Morais, 30/03/13 -Que bela idéia Aldenir! Siga em frente. Conte comigo.

Zucleide Zumba, 02/04/13 - Estou agradecida a Deus e ao amigo Aldenir Dantas, por mostrar esta luz... Ainda podemos fazer alguma coisa por nossos irmãos que neste momento não conseguem aquietar seus pensamentos diante dos conflitos espirituais e morais que se encontram...
Ainda dá tempo de renovar as almas que nem sonham mais, diante da realidade em que vivem: desprezados por nós...

Mario L. Costa, 04/04/13 - A sociedade nunca estará segura enquanto não conseguir recuperar seus deliquentes que um dia sempre retornam ao convívio social.

Emília Margareth Gonzaga Alves, 12/05/13 - Caro Jomar, parabéns pela nobreza de seu coração em compartilhar seus conhecimentos e experiências. Fico-lhe muito grata. Vivemos uma época em que pequenas atitudes serão a mola mestra que mudará o mundo. Acredito nisso pela grande quantidade de pequenos gestos praticados por pessoas que estão fazendo diferença em nossa época - o presidente Mujica, o papa Francisco, você e outras tantas abelhinhas espalhadas pela grande aldeia virtual. Como humanos, erros existirão, mas sem eles, os erros, os acertos não seriam valorizados. Que Deus continue te protegendo e inspirando, tornando melhores os nossos dias! Fique em paz.

Jomar Morais, 13/05/13 - Emília obrigado por sua mensagem. Seu comentário é lúcido e preciso, ao realçar o valor dos pequenos gestos para as grandes mudanças no mundo. Que todos tenhamos consciência de que somos abelhas na grande teia social.

Ricardo Alves da Silva, 27/05/13 - A APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados é uma grata novidade... para mim, pois já existe há um pouco mais de 40 anos, com as experiências iniciais em São José dos Campos/SP. Há quase 3 anos está com uma pequena unidade em Macau/RN, que conheci no último sábado (25/maio/2013).
Uma das frases mais claras que sustentam a sua filosofia é "Todo homem é maior que o seu erro". Até onde consegui entender (ainda vou estudar mais), propõe ser um espaço onde o condenado pela Justiça seja tratado efetivamente como recuperando, com obrigações a cumprir, que são muitas, e direitos a serem respeitados ao longo da execução de sua pena.
Com uma rotina diária rígida, determinada por horários e atividades a serem obedecidos, está longe de ser um espaço conivente com o criminoso do passado, mas estritamente comprometido com o cidadão do futuro que, retornando ao convívio pleno na sociedade, espera-se ser um membro ativo e consciente de suas responsabilidades.
A imagem permanentemente apresentada do sistema prisional oficial é chocante, sem dúvida! A tal ponto, que nos motiva a imaginar que não tem solução. Ou que as soluções tão comumente debatidas (legitimação ou justificação dos mau tratos, pena de morte etc.) são as únicas.
O mais chocante para mim, depois deste sábado, é saber que existem opções, que existem experiências exitosas, mas terminantemente ignoradas pela sociedade. Chocante! (via email)

Jomar Morais, 02/06/13 - Caro Ricardo, no dia em que mais gente ficar chocado, como você ficou, a situação que ai está mudará para melhor.

Franklin Jorge, 02/06/13 - Ah como gostaria de ser autor desse artigo!

Jomar Morais, 03/06/13 - Caro Franklin, em seu posto de jornalista e intelectual você tem feito muito mais pela arte e a literatura, ferramentas de conscientização e libertação do homem.

Cleber Costa fala a voluntários e recuperandos na APAC de
Macau durante visita do Grupo Espírita Garimpeiros da Luz
JM entrega o livro Viver ao líder dos recuperandos na APAC
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Mais informações sobre o método APAC >> http://www.fbac.org.br
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