Temos mais a aprender com a China ancestral, de sábios como Lao-Tsé e seu Tao Te King, do que com a atual, inebriada pelo lado glamuroso do capitalismo e pelo desejo reprimido de supremacia
A China é a bola da vez. Já é a segunda economia do planeta, atrás dos Estados Unidos, e espera apenas que os americanos acelerem na descida da ladeira para se tornar a grande potência econômica e, quem sabe, militar do século 21. Faz parte do movimento evolutivo a emergência, reinado e declínio de potências mundiais. Lembra do Império Romano? E da Inglaterra e seu império onde o sol nunca se punha? Talvez o Brasil, galopante em sua posição de sexta economia, veja chegar a sua hora no ocaso deste século, mas até lá teremos muitos cursos de mandarim e uma enxurrada ainda maior de produtos made in China.
Penso que temos mais a aprender com a China ancestral, de sábios como Lao-Tsé e seu Tao Te King, do que com a atual, inebriada pelo lado glamuroso do capitalismo e pelo desejo reprimido de supremacia. É de seu passado que recolhemos indicações mais seguras para a felicidade e não meras receitas utilitaristas para o progresso material e a fatuidade.
O filósofo Huberto Rohden costumava dizer que o Tao Te King compõe, com o Evangelho cristão e o Bhagavad Gita hindu, a trinca de livros máximos da humanidade. Seus 81 aforismos expressam a mais refinada sabedoria chinesa, embora jamais tenham alcançado, mesmo na China, a popularidade dos preceitos de Confúcio, mais pragmáticos que os de Lao-Tsé, focados na relação com o self (o Eu profundo) e o absoluto. Para compreendê-los é necessário um mínimo de amadurecimento espiritual para enxergar no paradoxo do enunciado a verdade universal. E é o que eu lhe desejo ao presentear-lhe com essa breve amostra:
Síntese: “Só temos consciência do belo quando conhecemos o feio. Só temos consciência do bom quando conhecemos o mau. Por quanto o ser e o existir se engendram mutuamente. O fácil e o difícil se completam. O grande e o pequeno são complementares. O som e o silêncio formam a harmonia. (...) Eis por que o sábio age pelo não agir. E ensina sem falar. Aceita tudo que lhe acontece. Produz tudo e não fica com nada. (...) Termina a sua obra e está sempre no princípio.”
Governo: “A presença de um verdadeiro chefe de estado é sentida pelo povo como ausência. (...) Os chefes sábios são ponderados em suas palavras. Desempenham a sua tarefa, mas o povo tem a impressão de se guiar a si mesmo.”
Vida e poder: “Tenro e flexível é o homem quando nasce. Duro e rígido quando morre. Tenras e flexíveis são as plantas quando começam. Duras e rígidas quando terminam. Rígido e duro o que sucumbe à morte. Tenro e plasmável o que é repleto de vida. (...) Pelo que vale isto: o que parece grande e forte já está a caminho da decadência. Mas o que é pequeno e plasmável, isto cresce.”
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