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OUTRO OLHAR por Jomar Morais
Há um aroma de cruzada no ar. Cruzada moderna, high-tech, que salta das trincheiras dos templos, academias e bares e se espalha pelos campos e vilas da Internet. Nessa batalha os que creem e os que não creem em Deus incendeiam a convivência cordial com uma sofisticada intolerância baseada em sofismas.
É uma guerra de crentes, pois mesmo o ateísmo, como diria o filósofo francês, ateu, André Comte-Sponville, “é uma crença negativa, um pensamento que se alimenta do vazio do seu objeto”. E como estamos diante de uma questão de fé, uma disputa passional, é fácil perceber a fragilidade dos argumentos com que esgrimem os combatentes.
É pobre, por exemplo, o raciocínio religioso de que ateus tendem a ser belicosos e mesquinhos pelo simples fato de não acreditarem em Deus. Embora as crenças condicionem atitudes, não há evidência histórica nem científica de que o senso ético só se mantém sobre a idéia de Deus e de recompensas e punições divinas.
Mais de 70% das populações dos países nórdicos se dizem ateus (na Suécia eles são 85%) e lá os índices de violência figuram entre os menores do mundo e praticamente não há discriminações nem desigualdades sociais iníquas. É um contraste escandaloso frente a países com alto índice de religiosidade, como o Brasil e o México, onde mais de 70% da população acreditam em Deus.
Mas é também insatisfatório usar a situação dos países nórdicos para assegurar que ateus são sempre mais pacíficos que religiosos. Se é verdade que, em nome da religião, muitos disseminaram o ódio e implantaram a guerra, vale lembrar que ateus convictos, como Stalin, Mao e Polpot, cometeram carnificinas colossais, com o endosso de uma elite política igualmente atéia.
Em ambos os argumentos descartam-se as condições materiais, políticas e outras condicionantes culturais de cada sociedade - sem falar no uso da religião como recurso de manipulação e subserviência ao poder -, simplificando-se conclusões para justificar esse ou aquele dogma.
Religiosos tendem a ter certezas e isso é mal para eles e para o resto. Quando não há a consciência socrática de “só sei que nada sei”, a tendência é que procuremos impor nossas “verdades” aos outros, estabelecendo a ignorância e o constrangimento. Mas que dizer dos ateus que usam o cientificismo para sofismar e propor o fim das religiões? Um ateísmo baseado nisso é cegueira e tolice, diria, de novo, Comte-Sponville. "A ciência não explica tudo, a razão não explica tudo. O cientificismo é a fossilização dogmática e religiosa dos incréus”.
Crentes e ateus na Internet lembram-me as torcidas organizadas em dias de excesso. Dentro e fora dos estádios, esse tipo de fanatismo já produziu desordens e mortes. Mas até agora, felizmente, ninguém propôs acabar com o futebol para conter um bando de loucos.
CRENTES x ATEUS
Quando não há a consciência socrática de “só sei que nada sei”, a tendência é que procuremos impor nossas “verdades”, gerando ignorância e constrangimento