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OUTRO OLHAR por Jomar Morais
No mundo inteiro e, mais intensamente em algumas sociedades, predomina a crença de que tudo o que a maioria das pessoas sente, acredita ou faz deve ser considerado normal e, assim, deve servir de guia para o comportamento geral e de roteiro para a educação. Foi essa crença que inspirou os cuidados de nossos pais, nos dias de nossa infância, e é nela que se apóiam, hoje, os nossos esforços para ajudar filhos e netos a encontrarem um lugar ao sol. Mais: essa convicção permeia e dirige todo o aparato social, que tende a discriminar e excluir tudo e todos que se movem na contramão do habitual.
Parece candido e legítimo, mas não é. Em alguns casos, é a crueldade que sufoca a vida e a beleza de sua expressão criativa. Afinal, nem todas as normas adotadas por conformidade são benevolentes e muitas provocam sofrimentos, doenças e morte. A normalidade, do jeito que a encaramos, é patogênica e a prova está em transtornos pessoais aceitos, como a soberba e a avareza, nas guerras e na destruição dos ecossistemas, tudo isso validado pelo consenso social.
Nossa fixação em ser normal é neurose. Ou, com mais precisão, é normose, como bem o disseram os pensadores Jean-Yves Leloup, Roberto Crema e Pierre Weil, os formuladores desse novo conceito. A normose é uma praga que se dissemina rapidamente em nossa época de comunicação massiva, ídolos e estereótipos forjados por técnicas de marketing, indústria de tendências e hábitos enraizados na sofreguidão dos sentidos e na avidez pela posse. Estamos cercados de modelos de homem ideal, mulher ideal, casal ideal, vestuário ideal, sociedade ideal... padrões que nos levam a perder o contato com a humanidade real e a sufocar o nosso próprio ser e suas aptidões. O normótico é alguém que vive a tragédia da negação de si mesmo e de sua originalidade, transmutado em zumbi a vagar pela noite dos modismos em busca de um sentido jamais alcançado.
A normose se sustenta no medo inconsciente que se opõe ao desejo primordial de abertura, tão claramente manifestado na curiosidade e na disposição de experimentar das crianças tenras, ainda não engessadas nos condicionamentos culturais. É o grande medo do desconhecido ou do que pode não ser aprovado em consenso, eterna fonte de ansiedade, angústia e, não raro, terror. É uma força negativa que nos induz a procurar proteção nas posturas padronizadas e nos preconceitos, ingredientes que mantem a coesão grupal na ausência do amor - sempre inclusivo e libertário - e de outros valores éticos.
Em princípio, instalar-se nesses falsos abrigos pode gerar a ilusão de que encontramos o rumo e a pacificação interior, mas esse efeito costuma durar pouco. Renunciar à autenticidade e aos dons que a vida nos confiou sempre resulta em tumulto interno e em torno de nós e, nesse caso, a tensão e o conflito darão o tom de nossa existência e de nossas relações com as pessoas e o mundo. Nosso perfil ajustado e validado será tão somente o inferno no qual arderá, em fogo brando e interminável, o melhor de nossa essência.
Publicado na edição de 02/11/10
NORMOSE
Nem todas as normas adotadas são benevolentes e muitas provocam sofrimentos, doenças e morte. A normalidade, do jeito que a encaramos, é patogênica