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OUTRO OLHAR por Jomar Morais
PERSONAL STYLER
As pessoas querem ser livres, mas também querem ser “normais”. Querem ser únicas, mas receiam ficar fora das “tendências”. Querem ser afirmativas, mas temem ficar sem a carícia do aplauso.
O bate-papo seguia animado na Casa de Cultura Popular de Santa Cruz, onde amigos, escritores e poetas regionais acolheram-me para uma conversa sobre o meu livro “Viver”, quando alguém disparou a pergunta: “Mas por que você decidiu escrever um livro assim?”. O eixo do questionamento é o advérbio “assim”.
Certamente o interlocutor se surpreendera ao confrontar meu currículo de jornalista que durante décadas escreveu sobre a rotina do poder com o conteúdo heterodoxo de minhas crônicas atuais, sempre fluindo na contramão do materialismo, do pragmatismo e do nonsense de nosso tempo.
Ora, por que eu deveria fidelidade ao que escrevi anos atrás?
Disse aqui mesmo que, ao rever muitas matérias assinadas por mim em jornais e revistas, já não me reconheço nas velhas páginas pelo simples fato de que ninguém é hoje a mesma pessoa que foi ontem. No eterno movimento do universo, a experiência altera continuamente nossas crenças e valores e, dependendo da velocidade e profundidade desse processo, é possível que constatemos, ao cotejar duas fases de uma mesma vida, uma espécie de salto quântico de significado e sentido. Nas biografias de sábios e santos isso nos parece aceitável, mas temos dificuldade em lidar com esse fenômeno natural quando o percebemos em nossos contemporâneos e, sobretudo, em nós próprios.
Em meu lugar, em Santa Cruz, Gandhi teria respondido: meu compromisso é com a verdade. E da verdade vamos percebendo aspectos que se revelam em etapas, na experimentação diária e no exercício da observação. Fixarmo-nos em papéis sociais, ou nos conceitos gerados sob sua influência, é negar esse fluxo de criatividade e expansão da consciência. É estagnar a vida e instalar-se numa contradição que tem fundamento em nossas pulsões egóicas recheadas de medo - a contradição libertária.
As pessoas querem ser livres, mas também querem ser “normais”, o que pressupõe submissão a padrões e normas. Querem ser únicas, mas receiam ficar fora das “tendências”. Querem ser afirmativas, mas temem ficar sem a carícia do aplauso. Todos queremos liberdade, mas, na prática, optamos por segurança, uma zona de conforto em que possamos garantir ao ego inflado uma massagem permanente.
Isso explica, em parte, por que multidões trocam a possibilidade de fazer escolhas - assumindo a responsabilidade por suas conseqüências - pela busca de proteção nas receitas de tantos especialistas, mestres, gurus e instrutores particulares, profissionais cuja expertise, quase sempre, se resume à arte de dar palpite em linguagem empolada. Isso explica, talvez, por que, nesse tempo libertário, haja lugar para um tal personal styler, o palpiteiro que vai lhe dizer que camisa você deve vestir hoje.