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Mais do que um professor, Epaminondas era um pensador. Possuía um conjunto de frases próprias, e nas conversas na mercearia de seu Felizardo, além compartilhar sua sabedoria, dava verdadeiras aulas para os incautos que riam dos seus aforismos. Mas como todo sábio, ele jamais se incomodava com aqueles gracejos. Eram frutos da ignorância daquele povo bom, mas, como ele mesmo dizia, sem curso superior.
Após uma semana ausente das conversas, ao chegar naquela noite foi logo indagado por seu Felizardo:
- Tava viajando, professor? Não tinha aparecido mais.
- É, senhor Felizardo, fui à capital respirar um pouco de cultura e de saber. Se o cidadão com formação acadêmica não fizer isso de vez em quando, pode até atrofiar o intelecto.
- E qui traz de nuvidade da capitá, professô? - Perguntou Chico Zuza, após uma boa baforada no seu costumeiro cigarro pé-de-burro.
- Muitas. Muitas, senhores. - Falou, sentou-se, e por algum tempo permaneceu calado, enquanto os presentes conversavam sobre amenidades.
Após demorado silêncio, em que parecia refletir profundamente sobre algo, o professor ergueu-se do tamborete, ajustou os óculos e falou à platéia atenta e sempre pronta para beber da sua sapiência:
- Sempre disse, e nesta viajem tirei a prova dos nove de que estou certíssimo: Todo homem prevenido, precisa manter-se fichado no SPC. - Falou, fez uma breve pausa, aproveitada por seu Tião Bastião.
- Mas professô, e SPC num é aquele negoço que o caba fica sujo e num pode mais comprá fiado nas loja?
- Decerto que sim, senhor. - Falou, fez nova pausa e continuou, dirigindo-se a seu Felizardo - Veja o senhor: há muito desejo adquirir um cortador de grama elétrico. Um daqueles que a gente ver nos filmes.
- Eu já vi num filme... Mas aquilo deve ser caro! E o senhor tem grama, em casa?
- Ter, não tenho. Mas penso em um dia gramar o meu quintal. Tendo o cortador, fica tudo mais fácil.
Um ar de contentamento tomou conta dos presentes. Aquele era o professor Epaminondas, de volta com suas ideias ótimas, mas sempre pelo avesso.
- Vejam se não tenho razão: Visitando a matriz da Sertaneja, na capital, o que encontrei lá? O cortador de grama que sempre quis comprar. Não pensei duas vezes...
- Mas professor, porque não deixou para comprar depois de plantar a grama?
- Não se precipite, senhor... Não se precipite. - Falou, fez a tradicional pausa e continuou - Pois bem, comprei o cortador em doze prestações sem entrada. Um peso no orçamento, mas que valeria a pena.
- Será qui aquele troço seive também pra limpá mato? Um matim assim ralo, quiném babuge...
- Então, fui conduzido a um escritório com ar refrigerado, onde uma bonita e perfumada jovem preencheu uma ficha e fez um procedimento que vocês não conhecem, mas chama-se PI. E quando concluiu o processo, senti na prática, o que acabo de lhes dizer.
- Como assim, professor?
- Ela me disse: a venda não foi aprovada, porque o senhor está fichado no SPC. - Falou, pausou e, com um gesto teatral, continuou. - Já imaginaram os senhores se eu não tivesse fichado no SPC? Teria me endividado com aquele cortador de grama que, como os senhores mesmo reconhecem, seria de pouca utilidade para mim.
Os presentes se entreolharam, pensando silenciosa e coletivamente: “esse é o nosso professor Epaminondas”.
- E é por isso que sempre digo: Todo homem prevenido deve ter seu nome fichado no SPC. Eu, quando limpo o nome, trato imediatamente de sujá-lo novamente.
conto das terras do mericó - 10 por Aldenir Dantas *
PROFESSOR EPAMINONDAS E O SPC
Após demorado silêncio, em que parecia refletir profundamente sobre algo, o professor ergueu-se do tamborete, ajustou os óculos e falou à platéia sempre pronta para beber da sua sapiência: " Sempre disse e tirei a prova dos nove de que estou certíssimo: Todo homem prevenido, precisa manter-se fichado no SPC".
* Conto integrante do livro inédito Histórias Mal Contadas das Terras do Mericó. Aldenir Dantas é poeta e escritor, especialista em Ensino à Distância e mestrando em Ciências da Educação